No decorrer da história da educação brasileira, as classes populares sempre tiveram o direito a educação negado, principalmente os povos do campo. A educação ofertada para o povo camponês, denominada de Educação Rural, centrava-se no ensino de conteúdos descontextualizados da realidade camponesa. Neste contexto, os movimentos sociais do campo passaram a lutar por um modelo de educação que atendesse as necessidades e especificidades dos sujeitos do campo. A partir da década de 1990, o Movimento de Educação do Campo conseguiu avançar na construção do arcabouço político e pedagógico da concepção de Educação do Campo, que se associa as lutas pela construção de uma sociedade mais justa, democrática e popular, na qual o trabalhador é sujeito desse processo. Deste modo, a concepção de Educação do Campo foi forjada a partir da acumulação de conhecimentos políticos, teóricos e metodológicos obtidos pelos movimentos sociais a partir das experiências de educação popular e das lutas dos camponeses pelo direito à terra e à educação. Neste contexto, a Pedagogia da Alternância se consolidou como uma alternativa política e pedagógica comprometida com a formação crítica dos povos do campo e com a construção de novas alternativas de desenvolvimento neste território. No entanto, as reformas educacionais instituídas nas últimas décadas, sob a orientação política neoliberal, têm se constituído num dos desafios para a consolidação dos projetos de Educação do Campo no Brasil. Neste contexto, a Reforma do Ensino Médio, aprovada em 2016, propõe mudanças significativas na proposta pedagógica e curricular das escolas brasileiras, impondo novos desafios às escolas do campo, principalmente as Escolas Famílias Agrícolas. A partir dessas reflexões, tivemos como problema de pesquisa: Quais os possíveis impactos da implantação do Novo Ensino Médio na proposta curricular das Escolas Famílias Agrícolas do Piauí, considerando os princípios da Pedagogia da Alternância? A pesquisa teve como objetivo: Analisar os possíveis impactos da implantação do Novo Ensino Médio na proposta curricular das Escolas Famílias Agrícolas do Piauí, considerando os princípios da Pedagogia da Alternância. Para fundamentação das discussões dialogamos com: Quadros e Bernartt (2007); Nosella (2014); Sobreira e Silva (2014); Mattos (2014); Frazão e Dália (2011); sobre a Pedagogia da Alternância e seus instrumentos pedagógicos/mediações pedagógicas; Antônio, Silva e Cecílio (2010); Azevedo (2017), Dambros e Mussio (2014); Freitas (2014); Lavratti (2019), Mateus (2015); Mendes (2017), Motta e Frigotto (2017); Krawczyk (2017). Na área do neoliberalismo e reformas educacionais e ensino médio; Molina e Freitas (2011) que discutem sobre a Educação do Campo. A pesquisa foi desenvolvida a partir da abordagem qualitativa, tendo como instrumentos de produção dos dados, a análise documental e a entrevista semiestruturada. Os sujeitos da pesquisa foram os 2 representantes da Secretaria de Estado da Educação do Piauí (SEDUC) e 5 membros do núcleo pedagógico da Associação Regional da Escolas Famílias do Piauí - AEFAPI, que estiveram envolvidas no processo de implantação do Novo Ensino Médio no Piauí. Os resultados apontam que a implantação do Novo Ensino Médio no Piauí trouxe mudanças significativas no currículo das instituições de ensino, em especial nas Escolas Famílias Agrícolas, com a redução da carga horária da formação básica e, principalmente, da formação técnica, aspecto que preocupa o movimento das Escolas Famílias Agrícolas. Para minimizar estes impactos, as EFAs organizaram-se e apresentaram à SEDUC uma proposta alternativa de matriz curricular que contempla os instrumentos pedagógicos, que preserva parte dos princípios pedagógicos que fundamentam a Pedagogia da Alternância.