A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade da Educação Básica que, historicamente, tem sido caracterizada pelo demarcador da violência estrutural, assumindo contornos interseccionais de violação de direitos humanos, dadas as condições às quais os estudantes são submetidos. Dentre eles, as alunas negras, que geralmente vivem em alguma situação de vulnerabilidade social, são as mais afetadas, com a trajetória escolar comprometida pela condição de lugar periférico e de ausência de políticas de inclusão. A pesquisa, de intervenção cartográfica (Alvarez; Passos, 2010), teve por objetivo geral analisar as experiências narrativas de mulheres negras sobre educar em direitos humanos. Especificamente, buscou identificar, nas narrativas, saberes experienciais das mulheres negras da EJA; identificar os problemas e as formas de resistência dessas mulheres; caracterizar modos de educar em direitos humanos que revelam as experiências narrativas das mulheres negras da EJA. O estudo envolveu quatro mulheres negras, maiores de 18 anos, cursando a IV etapa da modalidade EJA. No processo da produção de dados, foram utilizadas as técnicas “Bonecas que falam: criações de mulheres negras da EJA” e “Quarto do espelho: narrativas de mulheres negras da EJA", com as quais foi possível entrar em contato com suas narrativas escritas e orais. Os principais dispositivos utilizados foram poemas, criação de personagens conceituais, confecção de bonecas de pano, diário de itinerância das participantes e da pesquisadora e entrevista semiestruturada. A análise de dados se desenvolve na perspectiva da interseccionalidade (Collins; Bilge, 2021), no sentido de observar as transversalidades de gênero, raça e classe na EJA (Arroyo, 2017). O estudo mostra que essas mulheres estudantes têm os seus saberes experienciais influenciados pelas condições de gênero, raça e classe, o que é perceptível em suas narrativas sobre o cuidado com os filhos, a casa, os cabelos, por exemplo, o que conflui para que seus principais problemas sejam: conciliação das tarefas escolares com o cuidado com a casa; atraso escolar por não tido acesso à escola na infância e por morar no campo; não ter acompanhamento dos pais quando mais jovem; e não receber apoio do esposo. Dentre suas formas de resistência, destacam-se: a experiência de “não se prender aos obstáculos”; ser capaz de amar; buscar na leitura, inclusive da Bíblia, formas de transcender à realidade cotidiana. Adversamente, as narrativas das mulheres negras pesquisadas quebram estereótipos, pois, em meio à dificuldades enfrentadas, a EJA tem sido, para elas, uma ponte para a superação de desafios cotidianos, validando essa modalidade de ensino como a “escola da fronteira”, um extremo, um cruzamento entre uma realidade e outra, definição dada a um Centro de Educação de Jovens e Adultos da periferia de Teresina-PI. Assim, a EJA, para elas, é um território de sonhos e fugas de opressões domésticas. As narrativas das mulheres também apontam para a educação que valorize o acolhimento, o cuidado, o empoderamento feminino, identitário e coletivo, o que direciona à perspectiva da educação em direitos humanos.