O câncer compreende um conjunto de doenças que tem em comum o crescimento
desordenado de células. Apesar dos grandes avanços na medicina no decorrer dos anos,
o câncer continua sendo uma das principais causas de morte no mundo e sua terapia ainda
apresenta várias limitações quanto a sua aplicação na clínica. Dessa forma, a necessidade
por novas formas terapêuticas se faz necessária e o uso de modelos murinos é uma
ferramenta promissora, pois, reproduzem de forma fiel os processos da carcinogênese.
Produtos naturais vêm ganhando destaque por apresentarem inúmeras propriedades
farmacológicas, dentre os quais, os polissacarídeos têm adquirido visibilidade por
apresentarem baixa toxicidade, alta biocompatibilidade e efeitos farmacológicos como
antidiarreico, antitumoral, anti-inflamatório e imunomodulador. Nesse contexto, o
objetivo do presente estudo foi avaliar a atividade antitumoral, anti-inflamatória e
parâmetros toxicológicos da goma do angico vermelho (GAV) Anadenanthera colubrina
var. Cebil (Griseb.) Altschul em modelos murinos. Inicialmente, foi realizado o ensaio
do MTT em diferentes linhagens celulares para avaliar a citotoxicidade da GAV in vitro.
Posteriormente, buscou-se avaliar o efeito antitumoral da GAV nas doses de 50 e 100
mg/kg/dia utilizando células tumorais de melanoma metastático (B16-F10) e Sarcoma
180 (S180) transplantadas em diferentes modelos murinos. Parâmetros toxicológicos
foram avaliados por meio de ensaios comportamentais, dosagens bioquímicas, hematológicas e peso relativo dos órgãos. Por fim, buscou-se investigar a atividade anti-inflamatório da GAV através do teste do edema de pata. Os resultados demonstraram que a GAV não apresentou efeitos citotóxicos in vitro na maior concentração testada de 1000 μg/mL em nenhuma linhagem testada. Quanto aos resultados in vivo, foram realizadas duas tentativas a fim de avaliar o efeito antitumoral da GAV em camundongos Balb/c transplantados com células B16-F10. O crescimento da massa tumoral neste modelo experimental exibiu uma progressão heterogênea frente a massa e volume, bem como regressão do tumor com o passar dos dias em alguns animais. Em outro modelo experimental, com camundongos Swiss transplantados com Sarcoma180, os resultados demonstraram que a GAV apresentou uma atividade antitumoral reduzindo o crescimento tumoral em 40,8 e 36,6% nas doses de 50 e 100 mg/kg/dia. 5-Fluouracil (5-FU, 15 mg/kg/dia), usado como controle positivo, reduziu o tumor em 60,8%. Os ensaios
comportamentais realizados não apresentaram quaisquer alterações na locomoção ou
efeito no sistema nervoso central (SNC) dos animais tratados com a GAV. Nas dosagens
bioquímicas houve uma acentuada diminuição apenas na enzima alanina
aminotransferase (ALT) nas duas doses da GAV. Por outro lado, o 5-FU além de diminuir
ALT, aumentou os valores de aspartato aminotransferase (AST). Quanto a dados
hematológicos, a GAV de 50 mg/kg e o 5-FU diminuíram os valores de hemoglobina de
forma significativa, sendo que o 5-FU ainda apresentou uma redução nos leucócitos totais
e no número de plaquetas. O peso relativo dos órgãos não foi alterado em nenhum grupo
tratado com a GAV, ao contrário do 5-FU que diminuiu o peso relativo do baço e do fígado. Por fim, a GAV nas doses de 50 mg/kg e 100 mg/kg exerceram efeitos anti-inflamatório significativos diminuindo o edema. Conclui-se desta forma que a GAV apresenta propriedades antitumorais e anti-inflamatórias, com boa biocompatibilidade em modelos murinos, sendo assim, alvo para novos estudos a fim de determinar por quais mecanismos de ação esse composto possa estar atuando.