As leishmanioses são doenças negligenciadas causadas por mais de vinte espécies de protozoários do gênero Leishmania que apresentam uma variedade de manifestações clínicas, envolvendo a pele, membranas mucosas e órgãos internos. Como os medicamentos convencionais são tóxicos e/ou apresentam resistência, tornam-se necessários a investigação e o desenvolvimento de fármacos mais eficientes. As plantas medicinais representam uma fonte potencial de princípios ativos com propriedades terapêuticas para doenças negligenciadas e a entrega destes bioativos em sistemas nanoestruturados pode representar uma estratégia viável, devido à sua capacidade de melhorar o potencial terapêutico. A epiisopiloturina (EPI), um alcaloide imidazólico encontrado em plantas do gêneroPilocarpus, apresenta comprovada atividade, in vitro e in vivo, contra Schistosoma mansoni e promissores efeitos anti-inflamatório e antinoceptivo. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo avaliar a atividade antileishmania do alcaloide epiisopiloturina nas formas livre e nanoestruturada. As nanopartículas à base de goma do cajueiro carboximetilada com EPI incorporada (NE) e sem EPI (N0) sintetizadas por nanoprecipitação foram caracterizadas por espalhamento de luz dinâmico, apresentando, respectivamente, um tamanho médio de 265,2 nm e 423,3 nm. Os valores de índice de polidispersão foram inferiores a 0,3; indicando uniformidade de tamanho das partículas no sistema. A avaliação in vitro da atividade antileishmania sobre formas promastigotas de Leishmania amazonensis demonstrou inibição do crescimento com CI50 de 20,339µg/mL para NE e CI50 de 32,762 µg/mL para EPI. N0, por sua vez, não apresentaram atividade contra o parasita. A análise de citotoxicidade por meio da avaliação da atividade hemolítica revelou que a epiisopiloturina em suas formas livre e nanoestruturada nas concentrações ≤125 µg/mL apresentou excelente biocompatibilidade com eritrócitos humanos. As concentrações citotóxicas médias sobre eritrócitos foram de 796 μg/mL para NE e 659,9 μg/mL para EPI. Dessa maneira, a nanoestruração do alcaloide em uma matriz polimérica de goma do cajueiro modificada potencializou a sua atividade antileishmania, além de ter contribuído para redução da citotoxicidade sobre eritrócitos; evidenciando, portanto, que um sistema nanoparticulado como plataforma de entrega de bioativo pode favorecer a atividade do composto carreado e melhorar sua biocompatibilidade com células humanas. Investigações futuras devem ser feitas para avaliar a atividade antileishmania sobre formas amastigotas e o potencial citotóxico sobre macrófagos.