VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NO WEBJORNALISMO DE PORTAL: da banalização à violência metalinguística.
Violência contra mulheres. Gênero. Webjornalismo. Análise de Discurso Crítica
A violência contra mulheres tem sido, na última década, cada vez mais percebida como problemática social de ampla visibilidade no Brasil, e enfrentada como grave violação dos direitos humanos, sendo, da tal forma, imprescindível para as ciências sociais que se debrucem sobre esse tema. Nesse sentido, interessou-nos saber como andava a realidade da mídia online teresinense em relação às produções discursivas sobre a violência contra mulheres na cidade. As questões que nortearam a investigação foram: como a mídia online, através do webjornalismo de portal, participa na produção dos discursos que estão em disputa pela significação dos crimes de violência contra mulheres enunciados nas notícias? Quais discursos estão em disputa pela significação da violência contra mulheres? Esses discursos têm oferecido contribuição para o empoderamento das mulheres? Tratou-se de uma pesquisa qualitativa online que se aproximou da etnografia virtual. Os portais de notícias Meio Norte e Cidade Verde foram escolhidos por fazerem parte de dois dos maiores conglomerados de comunicação do Estado do Piauí, e, concentrarem, concomitantemente, a maior transmissão de notícias enquanto webjornalismo. Para as notícias categorizadas, consideramos a diversidade das observações nelas apresentadas como se tratasse de um continuum etnográfico, o qual interpretamos com ajuda da Análise de Discurso Crítica (ADC). Os resultados indicaram que a (re)produção da violência contra mulheres nas notícias, por meio das quais a sociedade atribui sentido ao tema e é significada, constitui em si mesmo uma forma de violência, tal qual uma violência metalinguística, que, na (des)construção, com títulos individualizantes e abordagens descritivas dos crimes, tratados como eventuais, torna corriqueiro o contínuo de agravos que naturalizam a violência contra mulheres, eclipsando seu caráter estrutural gendrado que se articula aos contornos e prerrogativas de classe, raça/etnia e sexualidade, e reificando uma ordem patriarcal de gênero que é excludente para mulheres, na medida em que condiciona seu acesso ao espaço público à qualidade de vítima.