O presente estudo tem como tema central a violência de gênero em interface com a saúde, cujo objetivo geral é compreender como se processa o atendimento dos profissionais de saúde às mulheres que foram agredidas por seus companheiros e que procuram os serviços do Hospital de Urgência de Teresina – HUT. As categorias analíticas e conceituais básicas que fundamentam a discussão teórica estão relacionadas a gênero (Scott, Foucault, Bourdieu), violência contra a mulher (Saffioti, Minayo, Strey, Negrão, Schraiber), atendimento profissional na saúde (Almeida, Moreira, D’oliveira, Schraiber e Kiss, Diniz,). Trata-se de uma pesquisa qualitativa com aplicação de entrevistas semiestruturada e observação junto aos profissionais do hospital. A violência de gênero é um problema social grave que remete a relações de poder e desigualdades sociais entre os sexos reflexos de uma cultura machista/patriarcal. Manifesta-se de várias formas, independe de classe social, raça, idade, credo ao mesmo tempo que é complexa no que se refere ao seu desvelamento e solução, visto que inclui uma plêiade de fatores socioculturais. A violência contra a mulher pela sua magnitude e impactos diversos causados à saúde das mulheres é considerada por vários organismos internacionais como a Organização Mundial de saúde, Organização Pan-americana de Saúde como uma questão de saúde pública, no entanto este reconhecimento não é observado, de fato, nas ações e discursos de muitos profissionais da área da saúde. Sabe-se que a violência contra a mulher pode ocasionar um sofrimento crônico e agravos diversos à sua saúde física e mental, tais como: hematomas, lesões, traumatismos, fraturas diversas, dor crônica de causa aparentemente inespecífica, abortos espontâneos, DST’s, HIV, suicídios, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, baixa autoestima, entre outros agravos. É comum essas “dores sem nome” passarem desapercebidas de sua conexão com a violência, tanto para a mulher que sofre a violência como para os/as profissionais que prestam a assistência. Vários estudos apontam para uma invisibilidade deste problema nos serviços de saúde, em que muitos profissionais da saúde demonstram não estarem aptos a identificar e trabalhar com esta demanda, embora estes serviços sejam estratégicos para atuar sobre este problema, visto que são as principais portas de entrada destes casos na rede de enfrentamento a violência contra a mulher (ALMEIDA, 2007; D’OLIVEIRA, 2000; DINIZ, 2006; KRUG et al, 2002; MINAYO, 2006; MOREIRA, 2007; SAFFIOTI, 2004; STREY, 2004; SCHRAIBER et al, 2005). Desse modo, se justifica a relevância social deste estudo, cujos dados produzidos por essa pesquisa poderão servir de base para identificar pontos fortes e/ou frágeis nesta realidade institucional, assim como subsidiar a elaboração de protocolos de atendimento e capacitações na área de gênero aos profissionais, visando contribuir para a melhoria da assistência às mulheres que buscam atendimento nessa instituição.