A educação no Brasil configura-se como um campo de investigação que favorece a discussão sobre muitos aspectos, como por exemplo o sucesso escolar e a medicalização da educação, temas norteadores da presente dissertação. É válido pontuar que a realidade educacional do país é idiossincrática, atualmente percebe-se que, apesar de muitas dificuldades, existem avanços, índices que demonstram realidades com casos reais de sucesso escolar, como é o caso da cidade de Cocal dos Alves, localizada no norte do Piauí. Com enfoques de Bernard Lahire que compreende o sucesso escolar como o grau de consonância existente entre as práticas cotidianas no que concerne à escrita, as condições e disposições econômicas, a ordem moral doméstica, os modos com os quais é exercida a autoridade familiar, as práticas familiares de escolarização, estas distintas em cada família em particular e Pierre Bourdieu , em sua teoria da reprodução, defende que o sucesso escolar dá-se pelo grau de capital cultural que a família detém. Este sociólogo traz essa concepção por meio de uma crítica à ideologia de classes dominantes que acaba por segregar uma parcela da população que advém de classes menos favorecidas aos casos de insucesso escolar, neste ínterim que se observa o movimento das desigualdades sociais. Diante destes aspectos, o presente trabalho objetivou identificar as Representações Sociais acerca do sucesso escolar e medicalização da educação entre professores da rede pública de ensino da cidade de Cocal dos Alves-PI. Os sujeitos da pesquisa foram 82 professores da rede pública, municipal e estadual, da cidade de Cocal dos Alves, destes 79,3% eram do sexo feminino e 20,7%, masculino. Com relação à naturalidade, 40,2% são naturais de Cocal dos Alves, 26,8% de Cocal. Quanto ao estado civil, a maioria é casada, 58,5%, e apenas 37,8% são solteiros. Como orientação religiosa predominou a católica com 78,3% enquanto a protestante representou 17,4% dos entrevistados. Entre esses docentes, 58,5% afirmaram possuir renda compreendida entre 2 e 3 salários mínimos, 18,3% entre 3-5 e 14,6% entre 1-2 salários mínimos. A formação predominante dos entrevistados foi pedagogia com 48,8%, teologia e letras inglês apareceram com 8,5%, história com 7,3%, enquanto normal superior, matemática e língua português com 4,8% cada. Em sua maioria os professores possuíam pós-graduação, 62,2%. Com relação à satisfação em ser professor 96,2% consideram-se satisfeitos. Vale destacar ainda que 82,9% dos professores participantes são efetivos. A pesquisa foi do tipo misto que se baseia no desenho metodológico do tipo triangulação em que permite a comparação de dados estatísticos com descobertas qualitativas de forma simultânea. Foi utilizado como instrumento um questionário sociodemográfico para conhecer o perfil dos sujeitos. Para conhecer as RS dos sujeitos acerca dos fatores citados utilizou-se a Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP), em que o método de análise foi a técnica das redes semânticas e uma entrevista semiestruturada em que as respostas foram transcritas e analisadas por meio do software Iramutec. Observou-se que os entrevistados representam o sucesso escolar como dedicação, compromisso, trabalho e responsabilidade com que docentes, gestão e os discentes tem com o processo educativo. A congruência entre família e escola é outro ponto significativo das representações dos docentes, aspecto este semelhante aos citados por Lahire em seus estudos. Não se observou diferenciação entre classes mais ou menos favorecidas nos discursos dos docentes. Com relação à medicalização da educação, percebeu-se a existência da mesma, seja nos altos índices de medicamentos controlados que foram entregues no município, pelo número de encaminhamentos de crianças para atendimento especializados e nos discursos dos docentes, que representam a medicalização de forma significativa pela “detecção” de problemas escolares, problemas psicológicos dentre outros. Assim sendo, não se pretende que esta dissertação esgote as discussões acerca dos fenômenos, mas que a mesma possa servir de impulso para outros estudos, ampliando para o restante da comunidade. Almeja-se que ela favoreça um diálogo mais crítico acerca do sucesso escolar e da medicalização da educação para se buscar debater questões referentes às desigualdades sociais e educação, bem como pensar de forma mais racional e crítica acerca dos altos índices de medicalização na educação.