O crime tem sido estudado a partir de uma perspectiva de masculinização da delinquência, invisibilizando as práticas delituosas femininas. Todavia, sabe-se que há um crescimento da participação de mulheres no crime e em cargos de liderança, sobretudo no que se refere ao tráfico de drogas. Por que estão inseridas no tráfico de drogas e como se processa essa participação? O objetivo geral desse estudo é compreender a dinâmica das relações de gênero que envolve essas mulheres traficantes. De maneira específica buscou-se averiguar os motivos dos seus envolvimentos com o narcotráfico; identificar os lugares que têm ocupado nesse contexto estabelecendo relações entre as funções exercidas no crime e os papeis de gênero que lhes são atribuídos tradicionalmente na sociedade. Para tanto, tomou-se os discursos das detentassentenciadas na PFT-PI pelo comércio de entorpecentes. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com aplicação de entrevistas semiestruturadas e categorizadas na forma de Mapas de associação de ideias (SPINK,2010), apreciadas analiticamente via Análise de Discurso Crítica (ACD). As categorias conceituais centrais que fundam a base teórica dessa produção dizem respeito a gênero (SCOTT, 1995), entendido como elemento constitutivo das relações sociais e relações de poder que se apresentam tanto em nível estrutural, como microfisico (BOURDIEU, 2002 FOUCAULT, 1997); ao tráfico de drogas enquanto delito (BECKER, 2008). Dos resultados da investigação infere-se que as referidas mulheres vivenciam ambiguidades de posições sociais no contexto do narcotráfico a depender de com quem se relacionam: ora foram envolvidas sem que tivessem arbítrio, ora envolveram-se para romper com o lugar marginal reservado historicamente a elas; ora foram envolvidas porque lhes cabia enquanto mulher-mãe-esposa, ora negaram esses papeis e buscaram subverter o status quo pela criminalidade. Verificou-se, assim, certa fluidez relacional de posições sociais que as fazem ambiguamente protagonistas e subjugadas