A localidade Barra Grande (Cajueiro da Praia – PI) há cerca de duas décadas tem percebido mudanças de ordem social, econômica e cultural oriundas da exploração de seus territórios aquático e terrestre pelo turismo, que tem condicionado um modo de vida diferente para membros de famílias pesqueiras artesanais, sobretudo no âmbito do trabalho, da organização familiar e geracional. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo geral analisar as noções de reflexividade de membros de famílias pesqueiras artesanais de Barra Grande acerca dos seus modos de vida e das mudanças decorrentes da operacionalização do turismo nos seus territórios aquático e terrestre. E os objetivos específicos buscam: 1) Descrever como os membros das famílias pesqueiras constituem o trabalho, as relações de família e aspectos geracionais nos territórios aquático e terrestre; 2) Verificar como está sendo realizada a transmissão da tradição pesqueira artesanal e como a juventude local tem articulado suas vivências em meio à modernidade; 3) Relacionar como o turismo tem impactado as sociabilidades de membros das famílias pesqueiras a partir das categorias trabalho, família e geração. A pesquisa deriva de um estudo etnográfico, feito com observação participante e realização de entrevistas semiestruturadas, servindo de apoio o diário de campo. Entre homens, mulheres e jovens, participaram dezenove pessoas de três famílias pesqueiras. A pesquisa de campo ocorreu entre agosto e outubro de 2017, durante cerca de 60 dias. A pesca foi gradativamente a mais acometida pelas transformações decorrentes da vida moderna. Houve redução sensível do número de pescadores, sobretudo pela mudança da atividade tradicional para a assalariada por parte de novos possíveis pescadores. Mesmo assim, a pesca tem sobrevivido com a adoção do turismo enquanto possibilidade de ampliação do lucro pela venda direta do pescado a turistas/excursionistas, embora a população nativa ainda predomine como cliente. Os homens adultos continuam o labor na pesca, enquanto as mulheres passaram a experimentar o trabalho nas lides do turismo, admitindo novas orientações quanto à divisão do trabalho doméstico. A posição da mulher ganhou avanços, mormente pela capitalização que lhe destacou em casa, diminuindo a sujeição e a subordinação aos maridos, com autonomia e breve independência, mas ainda marcada por restrições. A juventude apresenta-se com distinção, pois passa por um estágio importante de deslocamento identitário. Para jovens locais, a pesca como modo de vida ficou no passado, acumulando possibilidades de trabalho ou da constituição de suas individualidades mediante a realização de seus projetos de vida, bem como pelo rápido assalariamento nos equipamentos do turismo. Portanto, as mudanças são de grande monta e particulares às pessoas que de certa forma tem sabido tirar proveito das condições que lhes foram impostas pela atividade do turismo, principalmente pelo fator econômico.