A realização da laqueadura se destaca na sociedade brasileira como uma das principais formas utilizadas no controle da fecundidade por mulheres. Em Teresina, a busca frequente por este método chamou atenção para as motivações presentes por trás das narrativas de “não quero ter mais filhos(as)”. Esta pesquisa tem como objetivo analisar como as relações sociais de gênero perpassam e se configuram no processo de escolha de mulheres pela laqueadura como forma de controle de fecundidade. Os aportes teóricos centram-se nos estudos de gênero (CONNELL, PEARSE, 2015) e sobre direitos reprodutivos e contracepção (SCAVONE, 2004; SOIHET, 2015). Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com a utilização da técnica de narrativas de vida a fim de conhecer a experiência reprodutiva e contraceptiva de mulheres que vivenciam a maternidade e realizaram a laqueadura pela rede pública de saúde em Teresina (BOLÍVAR, 2012; MORIÑA, 2017; FRASER, 2004). Os resultados demonstraram que as relações de gênero provocaram deslocamentos em suas trajetórias de vida, influenciando na decisão pela laqueadura conforme essas mulheres vivenciaram e refletiram sobre a trajetória reprodutiva, a negociação contraceptiva, a maternidade e cuidado dos(as) filhos(as), a divisão sexual do trabalho e a organização da assistência em saúde no planejamento reprodutivo e no trabalho de parto. Seus relatos são marcados por relações assimétricas de gênero no ambiente domiciliar, pela predominância da masculinidade hegemônica em seus parceiros e de regimes de gênero junto a profissionais de saúde, por um padrão social sobre a conduta da “boa mãe” e por feminilidades que aspiram mais autonomia. Os seus anseios enquanto mulheres ficam em segundo plano diante de seus cotidianos enquanto mães, esposas, donas de casa e trabalhadoras. O protagonismo na decisão pela laqueadura representou uma forma de apropriarem-se do seu corpo, tempo e vida e, assim, ampliarem o seu campo de possibilidades. A realização da laqueadura produziu significados que remetem à liberdade, segurança e autonomia. Mesmo que a laqueadura não modifique diretamente as dinâmicas das relações de gênero no ambiente familiar, foi um meio para várias finalidades, colaborando com mudanças em suas vivências cotidianas.