Esse trabalho aborda o fenômeno do cineclubismo, como prática cultural, tomando como lócus empírico o Cineclube da Casa da Cultura de Teresina, fazendo emergir um conjunto de práticas e sentidos com suas peculiaridades e linguagens próprias, como objeto de pesquisa cientifica. Partimos do pressuposto de que o cineclubismo é uma prática cultural que se desenvolve de forma organizada e estruturada, conseguindo aglutinar uma gama de pessoas de diferentes categorias sociais, gêneros, gerações, utilizando a potência da linguagem cinematográfica como vetor de organização de um coletivo, como espaço cultural fomentador de intensos debates, coadunando-se, inclusive, com o disposto nos objetivos do Plano Nacional de Cultura (PNC) do Brasil. A pesquisa que dá origem a esta dissertação envolveu pesquisa de cunho bibliográfico, documental, e de campo, com vistas a situar tanto a prática cultural cineclubista em termos mais amplos, quanto a experiência localizada do Cineclube da Casa da Cultura de Teresina. Assim, esta experiência fica localizada no contexto mais amplo no qual exponho a trajetória da entidade cineclube e do movimento cineclubista, a partir do seu surgimento e posterior desenvolvimento como prática cultural consolidada, observando-se a própria história do cinema, e de sua evolução como linguagem artística. Para falar propriamente da prática cineclubista, apresento conceitos como o de práticas culturais como os de campo, habitus e gosto, dentre outros, em uma perspectiva relacional. Busco, ainda, demonstrar a ligação umbilical do cineclubismo com o processo de construção da linguagem cinematográfica e a transformação do olhar desta forma de ver o mundo, através da imagem em movimento. Discorro, ainda, sobre o surgimento, a formação, e a expansão do cineclubismo no Brasil, apontando para características de diferentes modelos cineclubistas, no país, como o cineclubismo sob influência da Igreja Católica; como resistência à ditadura civil-militar, entre os anos 1960 e 1980, e na abertura politica, até o cineclubismo em tempos do Sistema Nacional de Cultura (SNC) e do Plano Nacional de Cultura (PNC), ou seja, na atualidade. Em seguida, apresento alguns dados do cineclubismo no Piauí e focalizo, em especial, esta prática cultural em Teresina, capital do estado, pondo em relevo suas peculiaridades, a partir de uma reconstrução com base documental e informações orais de cineclubistas. Em seguida, abordo a trajetória do Cineclube da Casa da Cultura de Teresina, a partir da minha própria experiência e de pesquisa de campo na qual recorri a técnicas de observação direta e participante, além de um breve questionário, etnografia de uma sessão, e entrevistas com grupo focal. Abordo este cineclube desde seu surgimento até os dias atuais; sua composição, estrutura e formalização; relação com a Casa da Cultura de Teresina, onde funciona atualmente; programação: processos, divulgação e realização; atores envolvidos, suas inserções sociais, motivações para a prática cineclubista, sentidos produzidos sobre ela, inclusive, sociabilidades para além das sessões de cinema. Aponto, ainda, para os limites da continuidade desta experiência, em particular.