Apesar de estar na moda, ser jovem nunca foi tão fácil o quanto parece, mas todo mundo quer ser. E o que é ser jovem, afinal? A imagem construída no imaginário social acerca do jovem, é alicerçada em padrões homogeneizadores, que anulam quaisquer pluralidades juvenis. Assim também, as práticas de lazer pensadas para a juventude em geral, passam por modelos excludentes, que desconsideram outros modos de divertimento vividos por diferentes grupos sociais. Nesse contexto encontram-se as juventudes rurais, que tem seus modos de vida e suas práticas de lazer totalmente negadas por essa lógica homogeneizadora e padronizante, acerca das juventudes e de seus lazeres. Esta investigação procura entender como os jovens do assentamento rural Vale da Esperança experimentam o lazer. Também, busco compreender vivencias e significados atribuídos aos seus lazeres e juventudes, nesse território rural. Assim, essa reflexão é norteada pelo ponto de vista dos próprios jovens, tendo como elemento central, suas narrativas, construídas por meio de conversas e entrevistas abertas semiestruturadas, realizadas, em geral, na comunidade, além das observações livres e sistemáticas, todas estas baseadas na História Oral, referenciada por Portelli (2017). Como pano de fundo da compreensão de invisibilidades, desigualdades, silenciamentos e dicotomias que perpassam o cotidiano dessas juventudes rurais, tive como referência a análise da realidade a partir da perspectiva da colonialidade, explicada por Mignolo (2014) e Quijano (2005). Trouxe para a discussão a compreensão de que o significado de juventude não se encerra em um conceito estático de faixa etária, mas deve ser pensada como condição e como modo de vida e fase da vida, tendo como principal referência Pais (2003). No entanto, estive guiada é claro, primordialmente, pelas narrativas dos sujeitos, tendo estes como principais produtores do conhecimento. Para a compreensão do universo no qual estes jovens constroem suas identidades assumo a perspectiva do assentamento como território de ruralidades, entendendo o rural não somente como um espaço de produção agrícola, mas também como uma realidade construída por sociabilidades, produção e reprodução de vida e cotidianos, como explica Carneiro (2018) e Santos (2006). E para compreender o lazer destes jovens me apego ao entendimento do lazer como uma dimensão de busca pela excitação, pelo descontrole desmedido, e que, primordialmente, obedece ao princípio da livre escolha, inspirada por Elias e Dunning (2000). É a partir destas compreensões que apresento quem realmente são os jovens do Vale da Esperança, como entendem e vivenciam a juventude, quais suas práticas de lazer, e ainda de que forma a vivência em seu território rural influencia em suas experiências juvenis.