O mundo telânico (LIPOVETSKY, 2009) e o cinema estão entre as grandes questões do nosso
tempo. Essa arte, que nasce com a modernidade, está no centro de relações de poder e da
conformação de um pensamento hegemônico por meio de uma invasão cultural. Abordando
preliminarmente inquietações relativas ao Cinema como indústria, arte, cultura e suas
possibilidades de análise sociológica a partir de autores como Edgar Morin (2014), Pierre
Sorlin (1977) e Anatol Rosenfeld (2013), procuramos entender como a linguagem do cinema
constrói as narrativas que sustentam o pensamento hegemônico e o reconstituem nas
sociedades suas bases ao longo do tempo, reproduzindo e acionando diversas conformações
no campo social. Em contrapartida, apresentamos o grupo Modernidade/Colonialidade e
algumas contribuições para o pensamento contra-hegemônico nas artes. Após estes aportes
teóricos, partindo do pressuposto de que Cinema é uma arte, portanto campo do conhecimento
(DELEUZE, 2018), o trabalho passa para uma análise fílmica de Bacurau (2019), para
compreender seus mecanismos simbólicos de constituição do social na formação de um
pensamento contranarrativo ou contra-hegemônico, Para isso recorremos à linguagem do
cinema, retrabalhamos a constituição do olhar e do imaginário a partir da forma/conteúdo de
um filme, ao passo que por meio de um exercício de imaginação sociológica (MILLS, 1970),
uma exibição de Bacurau para uma turma de Sociologia, foi possível também analisar a
maneira com que se olha determinados símbolos acionados pelo filme, afim de entendermos e
refletirmos a maneira com que cientistas sociais imaginamos o mundo por meio das imagens,
relacionando-as com categorias sociológicas. Nota-se que convenções da linguagem do
cinema se constituem como elemento essencial nos mecanismos de reprodução de um olhar
hegemônico, mas não mais que a plástica da imagem, reconhecendo padrões estéticos como
tipos ideais a serem alcançados por outros cinemas se estes desejam ocupar espaços de
validação do cinema hegemônico.