Esta dissertação tem por objetivo analisar como as(os) jovens do assentamento rural
Vale da Esperança experimentam o lazer. Também busco compreender vivências e
significados atribuídos aos seus lazeres nesse território rural. Assim, essa reflexão é
norteada pelo ponto de vista das(os) próprias(os) jovens, tendo como elemento central,
suas narrativas, construídas por meio de conversas e entrevistas abertas
semiestruturadas, realizadas, em geral, na comunidade. Além disso, observações livres
e sistemáticas, baseadas na metodologia da História Oral. Como pano de fundo da
compreensão de invisibilidades, desigualdades, silenciamentos e dicotomias que
perpassam o cotidiano dessas juventudes rurais, tive como referência a análise da
realidade observada a partir da perspectiva da colonialidade. Também a análise foi
norteada pela compreensão de juventudes, materializada nas diferentes e diversas
formas de ser jovem. Ademais, acredito que a noção de juventudes não se encerra em
um conceito estático de faixa etária, mas deve ser pensada como condição e como
modo de vida e fase da vida. Nesse percurso, guio-me, primordialmente, pelas
narrativas de jovens, como principais produtoras(es) do conhecimento. Para a
compreensão do universo no qual essas(es) jovens constroem suas identidades,
assumo a perspectiva do assentamento como território de ruralidades, entendendo o
rural não somente como um espaço de produção agrícola, mas também como uma
realidade construída por sociabilidades, produção e reprodução de vida. Para
compreender o lazer dessas(es) jovens, apego-me ao entendimento do lazer como uma
dimensão de busca pela excitação, pelo descontrole desmedido, e que,
primordialmente, obedece ao princípio da livre escolha. A partir dessas referências,
apresento quem realmente são as(os) jovens do Vale da Esperança, como entendem e
vivenciam a juventude, quais suas práticas de lazer, e ainda de que forma a vivência
em seu território rural influencia em suas experiências juvenis. Observei que no território
do Vale as trocas com o urbano são processadas nos mais diversos aspectos; na
paisagem, nas relações sociais, no lazer, no trabalho, na educação, na religiosidade,
enfim, em múltiplas dimensões de suas vidas. Em todas essas, a relação rural/urbano,
permeia a vida de jovens da comunidade, impactando das mais diversas maneiras seus
modos de vida. Diante dessa realidade, identifiquei no Vale jovens que resistem, que
preservam a essência de seu território, mas também trocam, permutam e negociam com
o urbano. Também constatei que as(os) jovens do Vale têm uma expressiva capacidade
de elaborar acerca de sua condição de jovens que, em muitos aspectos, difere de
parâmetros estritos admitidos pela sociedade em geral, que define um modelo de
juventude homogênea. As(os) jovens do Vale projetam sua juventude para além de
critérios rígidos, pensam uma juventude heterogênea e diversa. No que diz respeito às
manifestações culturais, dimensões do lazer e da tradição do Vale, essas são
compostas por elementos reeditados, mas também por elementos essencialmente
tradicionais, fazendo-me compreender as práticas de lazer dessas(es) jovens como um lazer não-mercadoria. É possível concluir que entre as(os) jovens do Vale da Esperança
a criatividade e a capacidade de buscar autonomia, potencialidades para a construção
de saídas mediante a ineficácia das políticas públicas, é uma realidade. Elas(es)
processam isso, enfrentando as situações de crise com a visão ampla e diversa da
realidade em que vivem.