O presente estudo se propôs a discutir, a partir de uma perspectiva de
gênero/feminista, os homicídios íntimos praticados por mulheres no estado do
Piauí, entre os anos de 2015 e 2019, considerando o espaço de agência das
mulheres que vivenciaram experiências de conjugalidade violenta. No Piauí, os
homicídios são a segunda maior razão de prisões de mulheres, abaixo apenas
do tráfico de drogas. O estudo partiu da problemática de que era necessário
investigar as particularidades dos casos de homicídio cometidos por mulheres,
quando estas também vivenciavam situações de violência doméstica. A
delimitação do estudo consistiu em pesquisar sociologicamente os casos nos
quais as autoras dos homicídios íntimos vivenciaram situações de violência
doméstica, compreendendo os assassinatos dentro de um contexto mais
complexo de violências de gênero, que também configuravam as vivências das
mulheres autoras dos homicídios. A pesquisa foi construída a partir de uma
abordagem quanti-qualitativa, de modo a compreender as teias de histórias e
experiências destas mulheres, e compreendeu as etapas de a) pesquisa
documental, por meio do estudo dos processos que apuraram estes crimes; e b)
pesquisa de campo, desenvolvida através de entrevistas semiestruturadas com
as mulheres que cometeram os homicídios íntimos. A combinação das
abordagens permitiu observar aspectos importantes, que contribuem também
para as discussões sobre o enfrentamento da violência de gênero e da efetiva
proteção das vidas das mulheres.