A presente dissertação pretende analisar as contribuições de mulheres feministas negras para a teoria e pensamento social feminista e antirracista latino-americano. A partir de uma perspectiva decolonial, destaca-se a produção intelectual de tais mulheres realizada a partir da militância e participação em fóruns de debate público bem como na esfera acadêmico-científica com objetivo de situar sua perspectiva crítica feminista e antirracista sobre as relações de gênero e étnico-raciais na América Latina na sua própria vivência enquanto mulheres negras, ativistas, intelectuais e pesquisadoras nesses espaços. Esta também visa compreender as interpretações de Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro e Lélia González sobre o lugar da mulher negra na formação histórica, no pensamento social brasileiro e nas relações sociais concretas da sociedade brasileira contemporânea. A partir dessa análise específica procura-se entender a crítica em relação à produção do conhecimento sobre o Brasil formulada por três intelectuais negras brasileiras – Beatriz Nascimento (1942-1995), Sueli Carneiro (1950-) e Lélia Gonzalez (1935-1994). A principal hipótese de trabalho é que uma determinada situação e posição política e teórica de crítica ao racismo e sexismo possibilitaram a estas pesquisadoras tanto formular a crítica fundamental sobre o conhecimento histórico e sociológico que vinha sendo produzido sobre a sociedade brasileira, como construir outros caminhos alternativos de interpretação do país e sobre a condição específica da mulher negra. Esta crítica sobre a formação do Brasil e sobre o lugar da mulher negra na imaginação nacional deve ser compreendida levando em conta suas participações e lutas nos movimentos feminista e negro. A pesquisa se centrou na análise de algumas de suas produções intelectuais durante os anos de 1980, período da abertura política, da organização e fortalecimento de vários movimentos sociais e de uma produção crítica sobre as relações raciais e diferenças de gênero feita por mulheres negras. Será analisado também a contribuição destas intelectuais e como tais influenciaram e ainda influenciam estudos e pesquisadoras atualmente. Como ferramenta metodológica utiliza-se a perspectiva decolonial, especialmente a relação entre gênero, raça e localidade, em conjunto com a abordagem de análise de estudos biográficos. Arrisca-se a propor a escrevivência como metodologia inventiva na produção de conhecimento nas ciências sociais.