Esta dissertação propõe estudar o processo de autoidentificação da comunidade quilombola Carnaúba Amarela, localizada na zona rural da cidade de Batalha, no estado do Piauí. A partir do Decreto nº 4.887/2003, as comunidades remanescentes de quilombos passaram a ter autonomia referente ao seu passado. Em junho de 2006, a Fundação Cultural Palmares (FCP), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, do governo federal, concedeu a certidão de autorreconhecimento à Carnaúba Amarela, identificando-a como comunidade remanescente de quilombo. Dessa forma, o objetivo desta investigação é compreender o processo de autoidentificação e reinterpretar a história de Carnaúba Amarela. Nessa direção, utiliza-se a História Oral como método de pesquisa, recorrendo à técnica da entrevista para a aquisição de informações, priorizando a oralidade do grupo e dando ênfase às vivências dos sujeitos participantes para a construção de sua própria história. Recorre-se, principalmente, às epistemologias sobre a temática para investigar o processo da identidade quilombola. Por oportuno, levantam-se discussões conceituais sobre os termos que norteiam e dão sentido ao estudo proposto, a exemplo de: memória; identidade étnica; quilombo; e remanescentes de quilombo. Com base nas literaturas e as narrativas orais do grupo, concebe-se que, possivelmente, a comunidade não se formou de um quilombo de escravizados fugidos, como no caso do Quilombo dos Palmares. Atualmente, a identidade da comunidade é positiva, construída na luta pelo reconhecimento como ‘remanescente de quilombo’. A propósito, a comunidade tem orgulho dessa nova identidade, e deixou no campo das memórias o passado de dor, sofrimento e humilhação. Ademais, a comunidade em apreço preserva algumas manifestações do passado, embora tenha agregado novos festejos relacionados à conquista da certidão emitida pela FCP. A comunidade recebeu orientações que vieram de fora (padre, agente do Estado) na organização embrionária, visando ao reconhecimento como “remanescente de quilombo”. Os moradores organizam-se em pequenas roças, onde cultivam produtos para a subsistência e comercializam o excedente. Os benefícios da Previdência Social (aposentadoria) compõem a renda dos moradores. Percebe-se que a comunidade sente orgulho da nova identidade.