Até o início do século XVIII, de forma geral, o conhecimento geográfico colonial era limitado. Em 1750, para o Tratado de Madri, tornou-se necessário delimitar as terras portuguesas, e a cartografia colonial brasileira passar a ter um maior rigor. O que conhecemos atualmente como Piauí esteve sobre a governo da capitania de Pernambuco e posteriormente do Maranhão-Grão-Pará. Em 1718, foi criada a capitania de São José do Piauhy, que continuou a ser administrada pelo Governador do Maranhão até 1758. Nesta data, é nomeado João Pereira Caldas como Governador para administrar o Piauí. Durante o primeiro governo, em 1760, foi realizado o primeiro mapa da região. O “Mappa Geográfico da Capitania do Piauhy”, do Ajud. Engenheiro Henriques Antônio Galúcio, contém informações topológicas bem definidas na legenda. Entre fazendas, freguesias, sítios, cidades estão dez povoações destruídas, objetos desta pesquisa. As povoações estão localizadas ao redor do rio Gurguéia e do riacho da Prata, e não aparecem em nenhum outro local da Capitania. De acordo com a historiografia do Piauí, no vale do Gurguéia até a data de confecção do mapa, ocorreram pelo menos cinco campanhas armadas de colonização portuguesa. Como resposta à invasão, os grupos indígenas também investiam contra as fazendas e as povoações coloniais. A partir de uma perspectiva da Arqueologia da Paisagem, que visa entender as micro histórias para então compreender uma história regional, procuramos identificar e localizar estas dez povoações destruídas. A metodologia utilizada para alcançar esse objetivo parte da Cartografia Histórica, da cartometria, da iconografia e da toponímia, juntamente com análises espaciais em mapas e outros documentos históricos. Sobrepomos dados históricos, observamos mudanças culturais que afetaram diretamente as populações que ali residiram, sejam elas indígenas ou coloniais. A partir dessa linha teórica e metodológica torna-se possível compreender os processos históricos, culturais e espaciais como horizontes sobrepostos.