O que você estava fazendo antes de começar a ler as primeiras páginas desta dissertação? Estava em alguma reunião importante? Lendo um livro talvez? Vendo sua caixa de e-mails ou trocando mensagens no WhatsApp ou em suas redes sociais? Como está o clima lá fora? Ensolarado ou nublado? Na nossa correria diária temos que dividir nosso tempo ocidental em tantas coisas e mesmo assim ainda nos falta tempo para fazer tudo que precisamos ou gostaríamos... E se algo ruim acontecesse e de repente você acordasse em uma cela de uma prisão, o que faria? Como aproveitaria o seu tempo? Talvez a combinação de memórias, “imaginação”, experienciação sensorial, te levando a desenhar e escrever nas paredes sirva de pano de fundo para mascarar a dureza do cárcere. A 530 km da capital Teresina, em São Raimundo Nonato-PI, os detentos da Penitenciária Tenente Zeca Rúben (1967-2007) deixaram vestígios de suas memórias e imaginação em forma de desenhos e murais de palavras nos mais variados tipos de suportes presentes nos banheiros, pátio e principalmente nas paredes e teto das celas. É neste cenário que voltaremos nossa atenção nas próximas páginas, na tentativa de compreender como os presidiários significaram e (re) significaram este espaço carcerário em uma redescrição linguística que se origina, possivelmente, na experiência sensorial. Além de perceber os sentidos que podem estruturar e influenciar no ato de registrar nas paredes e no teto das celas: realidades, visões de mundo específicas, identidades, memórias e recordações. Nesta dissertação iremos conhecer juntos como a Arqueologia trará respostas para os sentidos destes grafismos, tendo a Fenomenologia e a Arqueologia Simétrica como base teórica, já que estas correntes trazem um “novo olhar” para as coisas arqueológicas, e a cultura material como um todo argumentando as relações fenomenais, bem como a simetria entre humanos e não humanos do Sujeito-Objeto. Assim, tal estudo poderá representar um passo a mais no registro testemunhal, na valorização social e na reflexão coletiva sobre a Experienciação e vivencia humana no espaço carcerário, contribuindo para construção e/ou reconstrução do passado, mesmo o mais recente.