Compreender as populações pretéritas e seus comportamentos culturais é um dos grandes desafios da
Arqueologia. Uma das formas mais concretas de se entender um contexto arqueológico é o contexto
funerário, onde é possível chegar às escolhas dos indivíduos a partir dos aspectos culturais atribuídos,
os povos que habitaram o Sudeste do Piauí em especial a região da Serra da Capivara, tem como
consequência um desafio maior, uma vez que não usufruímos da Etnografia devido ao rápido
extermínio nativo pela colonização. Com isso, estudos de dieta alimentar tem contribuído para
entender as práticas cotidianas dessas populações pretéritas, seus hábitos culturais e
socioeconômicos, através de seus estudos arqueométricos (FRX, DRX) e arqueobotânicos (pólen,
fitólitos, amido) aderidos aos remanescentes humanos datados de 450 40 e 230 50 anos BP do
sítio arqueológico Toca da Baixa dos Caboclos (8°26’66”S; 42°05’03”W), PARNA Serra da
Capivara - Piauí, os quais evidenciaram um intenso e diversificado uso de plantas. Os grãos de pólen
de angiospermas (Ilex, Fabaceae, Serjania, Schinus, Cedrela, Malpighiaceae, Anacardiaceae,
Caryocar, Bromeliaceae, Poaceae, Gomphrena, Asteraceae, Rhamnaceae-juazeiro, Piptadenia-
jurema, Anadenanthera-angico-branco, Mimosa-jurema lisa, Sida-malva-benta, Hyptis-alfazema-de-
caboclo, Astronium-aroeira), esporos de fungos coprófilos e parasitas de plantas (Sordariaceae e
Curvularia), fitólitos (equinado-Arecaceae e bilobado-Poaceae) e grãos de amido (Capsicum sp.-
pimenta, Zea mays-milho, Fabaceae, Ipomoea patatas-batata-doce, Manihot sp.-mandioca) aderidos
às cavidades oral e pélvica de esqueletos humanos sugerem que tais plantas foram empregadas na
dieta alimentar, uso farmacológico e ritualístico, confirmados pelos métodos de isótopos estáveis de
carbono (δ
13C) identificados através de fragmentos de costelas humanas evidenciam a ingestão de
plantas C4, como milho e outras gramíneas cultivadas e através do nitrogênio (δ15N) identificou-se a
ingestão de proteína animal de alto nível trófico. Estes dados contribuem no entendimento das práticas
domésticas e funerárias, corroborando a hipótese do sedentarismo por parte dessas populações, além
de detectar o ambiente e o clima na ocasião da morte desses grupos humanos.