Neste trabalho foi investigado o Complexo Arqueológico Pedra do Mocó, situado na área rural do município de Independência, Estado do Ceará, Brasil, visando entender como se deu a ocupação humana pretérita do mesmo, ou quais atividades foram realizadas no local. Os procedimentos metodológicos adotados constaram: (i) do levantamento convencional do sítio arqueológico em si, dos blocos rochosos que contêm as pinturas rupestres e manchas vestigiais de tinta, e de vestígios de cultural material em superfície, realizado com interesse particular na avaliação de aspectos da paisagem; (ii) da coleta de amostras com resíduos de tintas de pinturas rupestres; (iii) do monitoramento in loco de parâmetros ambientais; (iv) da determinação da composição química elementar dos filmes pictóricos e do substrato granítico; (v) do tratamento de imagens digitais dos painéis de arte rupestre com os softwares DStretch e GIMP. A Pedra do Mocó consiste em um grande inselberg granítico, de fácil acesso, visível na paisagem desde longa distância, e que permite, a partir de seu topo, ampla visibilidade do ambiente do entorno. A ocorrência de diversos pontos com pinturas rupestres demonstra que o sítio foi um importante centro de atividade pictórica. A identificação de artefatos líticos com marcas de abrasão encontrados em diversos pontos do entorno do sítio, assim como a constatação de que a superfície dos blocos graníticos que serviram de suporte às pinturas rupestres foi preparada antes de recebê-las, são fortes indícios de que tais ferramentas foram utilizadas na preparação do suporte dos painéis pictóricos. As elevadas proporções de fósforo encontradas nos filmes pictóricos são sugestivas de que material ósseo pode igualmente ter sido empregado na preparação do suporte rochoso. As pinturas rupestres encontram-se em acentuado estado de degradação, especialmente pelo intenso efeito térmico causado pelas altas temperaturas atuantes na área do sítio, de forma diferenciada no ar ambiente e no suporte rochoso. A utilização dos softwares DStretch e GIMP muito contribuiu para uma visualização mais fidedigna da morfologia das pinturas rupestres dos painéis III, V, VIII e IX, e ainda foram úteis para a evidenciação de figuras não perceptíveis a olho nu, como nos painéis IV e VI. O software DStretch apresentou melhor desempenho no tratamento digital dos painéis. Não foram encontradas evidências nítidas que apontem para o uso do Complexo Arqueológico Pedra do Mocó como local de moradia, embora o arranjo de alguns blocos graníticos sugira pequenos abrigos para uso temporário. A identificação de materiais líticos e cerâmicos no entorno do inselberg aponta para uma exploração mais ampla do ambiente contíguo ao sítio. Considerando o exposto, é razoável propor que o assentamento, ou a habitação permanente, poderia estar em terra firme, na vasta planície que circunda a Pedra do Mocó, onde erguer uma estrutura para moradia seria menos complicado do que em um local com piso rochoso.