Essa pesquisa apresenta os resultados de um estudo que teve como finalidades identificar na arte rupestre pré-histórica as identidades sociais de figuras antropomórficas, assim como referência às relações de gênero e às diferentes atividades ritualísticas as quais se encontram ligados. Há uma ênfase especial em determinados aspectos da iconografia da imagem humana e às características atribuídas a cada gênero, revelando uma estrutura binária de oposições (esquerda/direita, dominante/dominado/ grande/pequeno). Tendo como base informações etnográficas oriundas de grupos indígenas brasileiros, realizou-se uma analogia comparativa a fim de interpretar um valioso acervo imagético que tornou evidentes diferentes, conflitantes, usos para as duas técnicas gráficas: na pintura rupestre, o papel ritualisticamente dominante do homem, e nas gravuras, a dominância da simbologia feminina. Foi possível relacionar ainda determinadas cenas parietais com importantes atividades ritualísticas realizadas por nativos, que são partes dos chamados ‘ritos de passagem’, entre os quais estão incluídos o rito da iniciação feminina, da fertilidade e do nascimento. Como local de pesquisa foram escolhidos sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra da Capivara, localizado na região Sudeste do Estado do Piauí, sendo selecionados por possuírem um corpus de figuras parietais extremamente ricas, tanto pintadas quanta gravadas.