A alimentação é um tema muito abordado nas pesquisas arqueológicas, tanto
naquelas que versam sobre períodos mais antigos ou pré-históricos, quanto nas que
abrangem épocas consideradas recentes, como é o caso da arqueologia do Mundo
Moderno (SOARES,2016). Em geral, essa temática tem sido explorada em seu sentido
biológico, associada a nutrição ou a subsistência, e raramente em seu viés social e cultural
(CRUZ,2010). Buscando compreender como as como a prática alimentar interfere e
conforma as relações sociais transpondo a visão da alimentação enquanto um fenômeno
biológico e incluindo a cultura material como principal fonte de informação me propus a
realizar o estudo das louças advindas das escavações da Fazenda Prazeres (CONTRERAS
e GRACIA, 2011, MARSCHOFF, 2007;2010). Esse sítio histórico e arqueológico está
localizado no município piauiense de Bertolínia, cuja ocupação inicial remete ao final do
século XVIII. Em 2014, esse sítio integrou o Projeto de Resgate Arqueológico no trecho
da BR 135 entre os municípios de Bertolínia e Eliseu Martins, no Estado do Piauí,
executado pela equipe de pesquisadores da Habitus Bio Consultoria. Foram realizadas
escavações que resultaram em um acervo composto por 8007 artefatos de diversas
categorias de materiais como: louça, vidro, metal, cerâmica e ossos de fauna. O conjunto
referente a louça foi analisado de acordo com o Número Mínimo de Peças (NMP)
resultando em um conjunto de 580 artefatos que foram classificados em fichas
tipológicas, quantificados e interpretados (LIMA,1989). Os resultados obtidos foram
cruzados com as informações obtidas através de outras fontes, como os documentos
escritos, os relatos de viajantes, os inventários post mortem e demais pesquisas históricas.
A pesquisa permitiu concluir que esse grupo doméstico desenvolveu estratégias próprias
para incorporar as mudanças que ocorreram durante o século XIX e, consequentemente,
se integrar ao Mundo Moderno.