A escravidão no Piauí se concretizou com a expansão das atividades pecuaristas ainda no
período colonial, com o surgimento de fazendas e currais. Essas atividades se sustentaram
com a mão de obra escrava. Uma quantidade imensa de cativos foi enviada para trabalharem
em fazendas na lida com o gado, plantações e outras atividades. Esta pesquisa tem como
objetivo identificar e analisar objetos ou materiais utilizados para o suplicio de escravos e
contextualizar o cotidiano dos mesmos, além de ressaltar as formas de resistência à escravidão
nas fazendas de gado. Nos ambientes antigas fazendas além de objetos e estruturas, também
podemos encontrar o intangível através de histórias passadas de geração em geração, o que
não é registrado materialmente como as narrativas que envolvem muros de pedras e cotidiano
dos cativos nas casas de fazendas. Almejamos colaborar com o levantamento de dados sobre
as pesquisas em arqueologia da escravidão no Piauí. Um dos motivos que despertou o
interesse por este tema foi verificar que existem poucas pesquisas com uma abordagem
arqueológica sobre a escravidão no Piauí. A metodologia utilizada consiste em um
levantamento de fontes existentes na biblioteca da UFPI e em fonte manuscritas do poder
Executivo, Judiciário dentre outros, além de fontes hemerográficas do acervo do Arquivo
Público do Estado do Piauí, em publicações relacionadas à escravidão em fazendas do século
XIX. Também um estudo dos artefatos de tortura do Museu do Piauí através das técnicas de
fluorescência de raios-X e microscopia óptica, e serão realizadas prospecções de superfície
nas fazendas: Olho D’água dos Negros, Serra Negra e Brejo de Baixo para um levantamento
dos vestígios materiais utilizados na prática de suplício de pessoas escravizadas, tais como:
tronco, gargalheiras e possíveis senzalas e análise de marcas de uso nos artefatos de torturas
do Museu do Piauí. A partir de pesquisas realizadas por Tânia Brandão (1999), Solimar
Oliveira Lima (2005), Luiz Mott (2010) e outros foi constatado que a escravidão foi uma
realidade presente no Piauí desde o inicio da colonização, assim como em todo o nordeste do
Brasil. E isto é confirmado pela presença de senzalas, materiais de torturas, como pelos
relatos de tradição oral nas fazendas mencionadas sobre maus tratos a pessoas negras
escravizadas. E mesmo que houvesse diferenças no tratamento dos cativos ao longo dos anos,
a violência sempre esteve presente e foi a principal forma de controle e manutenção do
sistema escravista.