"QUINTAIS RURAIS: ETNOBOTÂNICA COM ENFOQUE NA DIVERSIDADE E USO DE PLANTAS NO MUNICÍPIO DE MONSENHOR GIL, PIAUÍ, NORDESTE DO BRASIL"
plantas úteis. Fitoterápicos. Importância relativa. Plantas alimentícias. Comunidades rurais.
Os quintais constituem-se como um rico reservatório de germoplasma, o que contribui
para a manutenção da diversidade biológica, atuando como um laboratório da vida.
Objetivou-se pesquisar os usos atribuídos às plantas, registrando dados de frequência e
abundância, verificar a importância ambiental e cultural dos quintais, constatar se as
atividades desenvolvidas nos quintais ajudam na conservação da biodiversidade local e
realizar análises químicas de espécies medicinais aromáticas, visando validar sua ação
fitoterápica. A pesquisa de campo foi precedida pela aprovação do projeto pelo Comitê
de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Observando-se os
aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos, todos os partícipes da pesquisa
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram visitados 85
quintais (45 na comunidade Baixa Grande e 40 na comunidade Monte Alegre),
oportunidade em que se realizaram entrevistas semiestruturadas com os mantenedores
destes quintais e turnês- guiadas para a coleta das plantas úteis ali cultivadas. As coletas
botânicas seguiram o preconizado por metodologia usual e os espécimes vegetais foram
depositados no Herbário Graziela Barroso (TEPB) da UFPI. Os dados foram reunidos
em planilhas eletrônicas e calculados os índice de Shannon (H’) e Jaccard, visando à
obtenção de dados sobre a diversidade florística e similaridade dos quintais,
respectivamente. O Fator de Consenso dos Informantes (FCI) e a Importância Relativa
(IR) foram calculados para as plantas medicinais catalogadas. As indicações
terapêuticas seguiram a “Classificação Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde”, adotada pela Organização Mundial de Saúde. Do total de
mantenedores dos quintais, 97% são piauienses, 65 são mulheres e 20 homens, com
idade variando entre 21 a 86 anos. A maioria é casada (67%), trabalha nos serviços do
lar (35%) e ganha menos de um salário mínimo (76%). Os quintais são vistos como um
lugar apropriado ao manejo de plantas alimentícias, ornamentais, fitoterápicas e
cosméticas, servindo, também, para a realização de atividades domésticas e criação de
pequenos animais. Foram registradas 188 espécies, onde 59,8% são exóticas e 40,43%
são nativas. Os mantenedores da comunidade Baixa Grande referiram 179 espécies e os
da Comunidade Monte Alegre 119. As famílias mais representativas, em relação ao
número de espécies foram: Fabaceae (14), Euphorbiaceae (9) e Arecaceae (8).
Mangifera indica L. (manga), Anacardium occidentale L. (caju) e Annona squamosa L.
(ata) foram as mais cultivadas. A categoria de uso ornamental contou como a maior
quantidade de espécies citadas (57%), seguida da alimentícia (37,2%) e medicinal
(31,4%). Os quintais analisados se mostraram bastante diversificados, com Índice de
Shannon-Wiener de H´=4,73. Foram registradas 59 espécies de plantas medicinais,
dentre as quais figuram a Ximenia americana L. (ameixa), Myracrodruon urundeuva
Allemão (aroeira), Anacardium occidentale L. (caju) e Terminalia fagifolia Mart.(
chapada). As folhas foram as mais utilizadas (69,65%), seguidas de frutos (19,61%) e
caule (8,03%). Os chás, na forma de decocto e infusão (58.89%) e suco (17,09%) foram
os modos de preparo mais relatados. As doenças do ouvido e da apófise mastoide e as
doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas foram os males mais reportados. Croton
campestris A. St. Hil. e X. americana foram as espécies mais versáteis, com IR=2. Os
quintais estudados são diversificados, representando uma rica fonte de espécies úteis,
especialmente aquelas que possuem finalidades ornamentais, alimentícias e medicinais,
além de exercerem a função de refúgios para espécies nativas, ali protegidas pelos seus
mantenedores, que colaboram para a conservação da biodiversidade local.