A biodiversidade da flora brasileira denota um potencial significativo para os estudos científicos e para o beneficiamento de plantas, sobretudo, medicinais e alimentícias. O Piauí apresenta distintas unidades de paisagens com exponencial riqueza florística, distribuídas em inúmeras comunidades rurais. As questões norteadoras desta investigação conformam-se em saber como o etnoconhecimento sobre plantas medicinais e alimentícias praticado pela comunidade rural José Gomes, em Cabeceiras do Piauí, tem interferido positivamente ou negativamente na conservação ambiental e na manutenção da cultura local? O etnoconhecimento pode conduzir a comunidade para o empreendedorismo, repercutindo no desenvolvimento local sustentável? O conhecimento sobre plantas na comunidade mostra-se como um importante instrumento de empoderamento social e valorização cultural, cuja conservação dos estoques de recursos naturais, aliada ao patrimônio cultural de saberes e práticas, ampliam os horizontes do empreendedorismo, podendo manifestar-se como meio para o desenvolvimento local sustentável. Nesse sentido, objetivou-se compreender a influência da etnobotânica no empreendedorismo e no desenvolvimento local sustentável em José Gomes. A metodologia qualiquantitativa sustentou-se em critérios descritivos e exploratórios, além da etnografia; empregou-se também a técnica da observação direta, o diário de campo e turnê-guiada, além da matriz de SWOT. Aplicaram-se 82 formulários semiestruturados entre os comunitários, cujas análises quantitativas embasaram-se no cálculo do Valor de Uso Geral das espécies. Foram citadas 81 espécies, pertencentes a 40 famílias, sendo as mais representativas: Fabaceae (32,5%), Anacardiaceae (15%), Laminaceae (12,5%) e Arecaceae / Cucurbitaceae / Poaceae / Rutaceae (10%). Do total de famílias, 35% foram exclusivamente na categoria medicinal, 32,5% na alimentícia e 32,5% foram referidas nas duas categorias. Quanto à origem das espécies 60,5% eram exóticas e 39,5% nativas; as partes mais usadas foram as folhas (42,3%), seguidas dos frutos (21,5%). Os valores de uso real e potencial global apresentaram 76,51% (5.476 citações) e 23,49% (1.681), respectivamente, sendo que o valor de uso real 73,36% (2.558 citações) e potencial 26,64% (929) para a categoria medicinal e valor de uso real de 77,33% (2.058 citações) e potencial 22,67% (603) para a categoria alimentícia e para o uso das duas categorias valor de uso real 85,23% (860 citações) e potencial 14,77% (149). As espécies medicinais, alimentícias e/ou as duas que apresentaram maior valor de uso real foram: Oryza sativa L. (arroz – 1,70), Cucurbita pepo L./ Malpighia glabra L. – (jerimum e acerola - 1,24 cada), e Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng (malva-do-reino– 1,23). O diagnóstico socioeconômico e ambiental apontou para a necessidade de subsídios especializados, visando melhorias financeiras, econômicas e ambientais. Por outro lado, as análises demonstraram a presença de potencialidades internas favoráveis com uma forte projeção ao conhecimento botânico. Entendeu-se que o conhecimento etnobotânico das duas categorias, se for incentivado a monetizar os produtos gerados por meio dos vegetais, gerará valor social, econômico e ambiental. As reflexões elaboradas na comunidade a partir de um estudo minucioso foi possível observar, que a localidade é praticamente desprovida de políticas públicas que possam estabelecer a difusão do empreendedorismo sustentável, além de assegurar o desenvolvimento local, ficando os comunitários à mercê das demandas sociais e econômicas que satisfazem o bem-estar social.