A desertificação é um dos maiores problemas ambientais do mundo. Por esta razão, estudou-se a história da desertificação no município de Gilbués, localizado no sudoeste do estado do Piauí, Brasil, na maior área degradada do país e de transição entre a Caatinga e o Cerrado. O agravamento da degradação ambiental se acentuou nos anos de 1940 e 1950, embora existam registros de vulnerabilidades ambientais desde a segunda metade do século XIX, quando a região era praticamente desabitada. Questiona-se: como se deu a origem da degradação da terra e em que medida os impactos econômicos, sociais e ambientais conduziram ao processo de desertificação? quais as ações do poder público para mitigar os efeitos desse processo e as alternativas tecnológicas geradas? qual a percepção da população frente ao problema em função do longo período de convivência com a desertificação? Parte-se do pressuposto que a desertificação tem relação com as vulnerabilidades da região, agravadas pelas atividades econômicas e sociais; que foram implementadas ações governamentais para mitigar os efeitos da degradação e que a memória da sociedade foi fortemente marcada por sua relação com a desertificação. Objetivo geral: analisar como as interações entre sociedade e natureza, ao longo do tempo, conduziram ao agravamento da degradação ambiental. Especificamente, demonstrar que esse fenômeno está associado a fatores naturais, agravados por ações antrópicas; verificar se foram geradas políticas públicas e alternativas tecnológicas capazes de reverter o problema; e identificar marcas perceptíveis na memória da população, especialmente dos agricultores familiares, os mais afetados pela desertificação. Aplicou-se a teoria e a metodologia da história ambiental e também a história oral para realizar entrevistas com a finalidade de identificar as diversas percepções sobre a desertificação, a partir da memória dos pequenos produtores rurais. Entrevistou-se agricultores familiares de oito comunidades localizadas no centro sul de Gilbués, a área mais degradada do município. Os resultados revelaram que a área de estudo constitui um ambiente complexo onde coexistem uma agricultura empresarial, no norte do município, e a agricultura de subsistência, no centro sul, onde estão as áreas mais atingidas pela degradação ambiental, sobretudo aquelas situadas na microbacia do riacho Sucuruiú, em que predomina a pequena produção agropecuária, com destaque para o plantio de milho e criação de gado bovino. Constatou-se que, com assistência técnica do poder público, uma parte dos produtores utiliza técnicas como curva de nível, terraço e pequenas barragens para recuperar o solo degradado e produzir em melhores condições. Identificou-se na memória dos agricultores familiares fortes marcas advindas de suas percepções da paisagem degradada. Concluiu-se que existe uma fragilidade do ambiente natural e que a degradação ambiental foi agravada por ações antrópicas sem os devidos cuidados conservacionistas. Entretanto, evidenciou-se que algumas políticas públicas, a partir da criação do núcleo de pesquisa para recuperação de áreas degradadas, NUPERADE, permitiram ao pequeno produtor o acesso a tecnologias alternativas capazes de mitigar a degradação e de lhes garantir uma melhor condição de vida. Por fim, verificou-se que a memória dos trabalhadores foi fortemente marcada pela convivência com a desertificação, principal obstáculo das antigas e atuais gerações na luta pela sobrevivência.
Link da Sala: https://conferenciaweb.rnp.br/webconf/jaira-maria-alcobaca-gomes