PLANTAS SILVESTRES E PRÁTICAS ALIMENTARES POPULARES EM ÁREAS DE CARRASCO, SEMIÁRIDO DO NORDESTE DO BRASIL
Etnobiologia, Etnobotânica, Etnonutrição, conhecimento rural, saberes tradicionais
As plantas alimentícias silvestres estão dentre os recursos vegetais que têm contribuído para o atendimento das necessidades nutricionais básicas de famílias em todos os continentes e são consideradas importantes para as políticas que visam à segurança alimentar. Objetivou-se no cômputo geral conhecer as plantas silvestres que ocorrem de forma espontânea na fitofisionomia do carrasco e que são utilizadas na alimentação, além de resgatar as práticas alimentares populares com uso dessas plantas nas comunidades Bebedouro e Oiticica, município de Buriti dos Montes e Itapecuru e Pinga, Cocal, Piauí. Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CAAE nº 02773212.0.0000.5214) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi entrevistada uma pessoa maior de 18 anos por unidade familiar, em 100% das residências habitadas. Espécies foram selecionadas para a realização de testes visando avaliar a composição química e atividade antioxidante in vitro, seguindo-se metodologia usual. A partir das 93 entrevistas realizadas com auxílio de formulário semiestrutuado foram identificadas 79 espécies silvestres alimentícias, pertencentes a 33 famílias e 65 gêneros, distribuídas em 28 subcategorias de uso associadas às praticas alimentares populares. Dessas espécies, 43 foram indicadas para uso emergencial e 36 para não emergencial. Houve consenso entre os informantes quanto às práticas alimentares específicas; a correlação entre idade e gênero com o número de espécies conhecidas variou entre as comunidades; e os fatores ecológicos verificados influenciaram na seleção e no uso de espécies alimentícias conhecidas. A caracterização química e a atividade antioxidante in vitro revelaram que macambira (Bromelia laciniosa Mart. ex Schult.), jatobá (Hymenaea martiana Hayne), taturubá (Pouteria macrophylla (Eyma) Aubl.) e jacarandá (Swartzia flamingi var. psilonema (Harms) Cor.) são ricas em carboidratos, possibilitando sua utilização para complementação calórica diária. As espécies H. marciana, P. macrophylla e Randia armata (Sw.) DC. (taturapé) destacaram-se em compostos bioativos e em atividade antioxidante in vitro. Porém, mesmo as espécies que apresentaram menores teores desses compostos, B. laciniosa, Melocactus zehntneri (Britton & Rose) Luetzelb. (coroa-de-frade), Pilosocereus gounellei Juss. (xiquexique) e S. Flaemingi (jacarandá), foram consideradas plantas alimentícias importantes por estarem disponíveis em períodos de escassez de alimentos. As espécies H. martiana e P. macrophylla destacaram-se em capacidade para reduzir os radicais livres ABTS•+ e DPPH·. Concluiu-se que as comunidades estudadas conhecem e usam plantas alimentícias silvestres emergenciais e não emergências e identificam as subcategorias de uso alimentar para cada espécie; que há consenso entre os informantes sobre as subcategorias de uso dessas espécies; que a capacidade preditiva dos fatores idade e gênero, em relação ao número de espécies conhecidas, variou entre as comunidades, portanto não predizendo o conhecimento em todas; que os fatores ecológicos analisados influenciaram a seleção e o uso alimentício das espécies conhecidas; e, ainda, que as espécies analisadas possuem substâncias que justificam o uso na alimentação.