A maioria dos estudos sobre o desenvolvimento reporta-se ao crescimento econômico como fator de medida de prosperidade e acúmulo de riquezas, pouco ou nada considerando fatores de outra natureza, embora ele mantenha relação direta com a dinâmica social, cultural e política das sociedades que, no conjunto, influencia a qualidade de vida da população e demarca o desenvolvimento. Desta forma, ganham importância aspectos da estrutura social relacionados com a capacidade coletiva de interagir, confiar, cooperar, associar-se via redes de relacionamentos formais e informais, que proporcionem a seus membros um capital coletivo – capital social. Este representa um conjunto de recursos não monetários capazes de promover melhor utilização dos ativos econômicos pelos indivíduos e pelas instituições em determinada localidade, visando estimular a articulação sociedade-Governo-mercado de forma a valorizar potencialidades locais e possibilitar o protagonismo dos agentes sociais na construção do desenvolvimento com equilíbrio integral. No caso específico, o agronegócio da soja vem acarretando mudanças significativas em diversos locais do Brasil. A região do cerrado do Piauí, sobretudo para os 18 municípios produtores de soja do sudoeste e parte do extremo sul do Estado, com destaque para Uruçuí, nos últimos 30 anos, tem vivenciado significativo dinamismo econômico, resultante da modernização da agricultura e do agronegócio da soja mediante a instalação de grandes empresas, organizações e de um diversificado comércio alimentador da atividade agroindustrial. Sob esta perspectiva, o objetivo geral deste estudo é analisar o capital social dos trabalhadores do agronegócio em Uruçuí e seu potencial para influenciar o desenvolvimento sustentável, em especial, no cenário do agronegócio. São objetivos específicos: (1) aferir o índice de capital social (ICS) dos trabalhadores, considerando as dimensões participação em organizações, grupos e redes; confiança, coletividade e solidariedade; e ação social; (2) avaliar as dimensões de capital social pesquisadas e seu potencial para influenciar o desenvolvimento no município; (3) discutir questões da realidade local relacionadas às dimensões do desenvolvimento sustentável, na visão dos agentes sociais locais; (4) conferir desafios e potencialidades de desenvolvimento sustentável e as perspectivas do capital social. Trata-se de pesquisa exploratória e analítica, com abordagem quantitativa e qualitativa, realizada entre 2016 e 2017, com a utilização de uma conjunção de instrumentos de pesquisa, ênfase para as técnicas de entrevista e de questionário (QIM-CS), além da observação participativa e da análise de conteúdo, além de exaustiva pesquisa bibliográfica e documental. O ICS do segmento dos 170 participantes do estudo está aferido e classificado como baixo 0,378 (±0,1), com maior média para a dimensão confiança, coletividade e solidariedade 0,453 (±0,2), seguida pela ação social 0,421 (±0,1) e participação em organizações, grupos e redes 0,260 (±0,1). Dentre os resultados centrais, está a urgência de os agentes sociais transmutarem meras possibilidades em reais políticas públicas e em outros mecanismos que assegurem o desenvolvimento social em Uruçuí, mediante a valorização, na dinâmica local, de elementos essenciais ao desenvolvimento sustentável: participação, cooperação, espírito coletivo, solidariedade e, principalmente, compromisso e engajamento em questões e bens públicos, a exemplo das questões fundiária e ambiental, com permanente busca de maior inclusão social.