A agrobiodiversidade, importante ramo da biodiversidade, tem grande relevância para a agricultura e alimentação, apresentando forte vínculo com os seres humanos. Os estudos sobre agrobiodiversidade contemplam saberes e práticas sobre o ambiente, tradições e costumes, em que os agricultores usam os recursos que lhes são disponíveis na natureza de forma a garantir sua alimentação, saúde, construção de abrigo e artefatos, produção de fibras e geração de renda. Objetivou-se investigar por meio do conhecimento ecológico e botânico local, a agrobiodiversidade dos recursos alimentares utilizados em sistemas de produção tradicional, nas dietas das famílias dos agricultores, nas comunidades rurais Periperi e Projeto de Assentamento Araras, município de Amarante, Piauí. O estudo é de caráter qualiquantitativo, baseando-se nos métodos dialético, comparativo e etnográfico, por meio de pesquisa bibliográfica e levantamento de dados, aplicando-se formulários semiestruturados, listagem livre, observação participante, turnê guiada e oficinas, junto aos agricultores escolhidos por meio de amostragem não probabilística. Nas duas comunidades, os agricultores mantêm e gerenciam as espécies vegetais basicamente, em três agroecossistemas tradicionais: as matas, os quintais e as roças. Foram citadas 102 etnoespécies conhecidas, utilizadas e manejadas como recurso alimentar nos agroecossistemas tradicionais avaliados, distribuídas em 41 famílias botânicas. A maioria das espécies citadas (61%) é predominantemente cultivada em roças e quintais. O fruto foi o órgão vegetal mais consumido, com cerca de 72% de citação. Tanto as mulheres como os homens citaram, em média a mesma quantidade de plantas alimentares, e não foi observada diferença entre o número de espécies citadas em relação a idade, nível de escolaridade e renda familiar mensal dos entrevistados. Os quintais agroflorestais produtivos se caracterizaram por apresentar o maior número de espécies alimentícias citadas (72) no estudo. Tornam-se uma alternativa viável, agroecológica e sustentável que permite a produção permanente de alimentos básicos de qualidade e de fácil acesso para a subsistência de toda a família. Porém, verificou-se que as novas gerações estão começando a se distanciar das tradições locais, principalmente em relação ao conhecimento e uso de espécies alimentícias silvestres nativas, sejam por meio do acesso a novos produtos alimentícios ou mesmo por uma questão de melhoria econômica dessas famílias. Os saberes e práticas tradicionais dos agricultores fornecem elementos, que contribuem para a manutenção e conservação da biodiversidade agrícola. O compartilhamento dos conhecimentos provenientes do meio científico com as culturas locais melhora a compreensão das formas de conexão com a natureza. Espera-se que os resultados deste trabalho, possam favorecer à criação de políticas públicas que incentivem sistemas de produção agroecológicos e orgânicos nos agroecossistemas tradicionais contribuindo para a melhoria na qualidade da segurança alimentar e nutricional dos agricultores.