Os cajuizeiros (Anacardium occidentale L.) têm importância ecológica e socioeconômica para várias comunidades do Nordeste brasileiro. Assim, objetivou-se conhecer os usos e o manejo do cajuí nas comunidades Canárias, no Maranhão, Labino e Barrinha no Piauí, bem como caracterizar a variabilidade morfométrica e molecular de dois ecótipos de A. occidentale, ocorrentes na restinga e cerrado. Para avaliar dados etnobiológicos foram empregados formulários semiestruturados a 88 extrativistas das comunidades Canárias-MA, Labino e Barrinha-PI. Os resultados evidenciaram que a maioria (73%) dos entrevistados são mulheres. Os cajuís são empregados principalmente como alimentício (UDs: 0,87), forrageiro (0,08), medicinal (0,03) e combustível (0,02). O hipocarpo tem maior diversidade de uso (PPV: 0,76). Para caracterizar e distinguir os dois ecótipos de A. occidentale, com base no estudo de populações naturais e quantificar sua variabilidade morfológica em seis áreas, foram empregados 37 descritores fenotípicos. Amostras de material vegetativo (ramos com folhas) e férteis (com flores, frutos e hipocarpo) de 30 indivíduos de cada população de cajuí (A. occidentale) foram coletadas aleatoriamente em áreas de restinga (Piauí: nos municípios de Parnaíba e Cajueiro da Praia e MA: na Ilha das Canárias em Araioses); e no cerrado piauiense (Campo Maior, José de Freitas e no Parque Nacional de Sete Cidades). Resultados parciais da morfometria do porte das plantas variaram de 2 a 15 m e largura das copas de ambos os ecótipos variaram de 0,5 m a 20 m. A ordenação da PCoA mostrou superposição para os dois ecótipos quanto aos caracteres das folhas, sendo a variação do ecótipo cerrado maior. Para quantificar a variabilidade genética dos cajuizeiros foram coletados 180 indivíduos e até o momento 93 indivíduos foram submetidos a análises moleculares incluídas em seis populações já referidas acima. Os 93 indivíduos analisados com quatro primers SSR diferiram-se em dois grupos, um cluster do ecótipo restinga e outro do cerrado. Valores médios de Heterozigosidade Esperada (He) foram maiores para o ecótipo cerrado (He= 0,74; 0,55; 0,66), exibindo maior diversidade genética em relação ao ecótipo restinga. Dados da análise de variância molecular (AMOVA) mostraram que 66,55% da variabilidade genética encontra-se dentro das populações e 26,46% de variância está entre os grupos evidenciados pelas diferenças genética entre elas. O programa Structure com abordagem Bayesiana identificou o melhor valor de ∆K =2 (grupos genéticos), o que melhor se ajusta aos dados. Assim, estimativas usando técnicas moleculares permitiram diferenciar geneticamente as populações dos ecótipos restinga e cerrado. Nesse cenário, o cajuízeiro tem grande importância socioeconômica para as comunidades estudadas e permitem a continuidade da identidade cultural associada à sociobiodiversidade.