Nas últimas décadas tem-se percebido mudanças no sistema climático da Terra, trazendo como efeito principal o surgimento de eventos extremos, como secas severas que podem levar ao processo de desertificação e à degradação dos ecossistemas. Uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas é o Semiárido Brasileiro, onde tem-se verificado o aumento de estiagens e secas, trazendo insegurança hídrica, alimentar e energética para a sua população. O semiárido brasileiro é uma das regiões semiáridas mais populosas do mundo, tendo como principal ocupação a agropecuária, desenvolvida por meio da agricultura familiar e da criação de bovinos, caprinos e ovinos. Estas atividades geralmente apresentam baixo grau tecnológico e são fortemente dependentes da disponibilidade dos recursos naturais, principalmente a chuva. Outra característica marcante do semiárido brasileiro é a exclusão energética, verificada pelo baixo índice de eletrificação rural, devido às dificuldades de implantação de rede elétrica de distribuição. A falta de acesso à energia elétrica de qualidade vem prejudicando a qualidade de vida dos habitantes e atrasando o desenvolvimento agropecuário. Como forma de assegurar o progresso tecnológico, social e econômico por meio da gestão integrada e sustentável dos recursos naturais, foram propostos, a nível mundial, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Por outro lado, ações que busquem garantir a segurança hídrica, energética e alimentar, tendo em vista os desafios interpostos, como a degradação dos ecossistemas, demanda crescente, mudanças climáticas, urbanização e globalização, são expressos por meio do termo “nexo água-energia-alimentos”. Assim, destaca-se a importância de estudos sobre do uso de tecnologias que possam auxiliar na convivência com o semiárido para o acesso à água e para outras atividades, inerentes ao bem-estar do ser humano. Essas tecnologias, conhecidas como tecnologias sociais, consistem em alternativas para as demandas dos indivíduos e comunidades em estado de vulnerabilidade econômica, política, jurídica e social. As recentes preocupações ambientais e de desenvolvimento sustentável renovaram o interesse no uso de bombeamento de água movido à energia solar em todo o mundo. Esta tecnologia demonstra potencial para o abastecimento de água em comunidades rurais sem acesso à energia elétrica. A região Nordeste dispõe de condições favoráveis para o uso da energia solar principalmente, nas áreas rurais, pelos elevados índices de irradiação solar. Associado a isso, verifica-se no semiárido, grande quantidade de aquíferos subterrâneos, com águas de ótima qualidade para consumo humano e outras finalidades. Dessa forma, a utilização da energia fotovoltaica poderia ser uma alternativa interessante, em termos de segurança energética, para a retirada de água dos aquíferos existentes na região. Assim, pretende-se analisar o uso da energia solar fotovoltaica enquanto tecnologia social, considerando seus impactos socioeconômicos e ambientais em comunidades rurais piauienses de clima semiárido.