A dengue é a infecção transmitida por vetor artrópode mais prevalente no mundo. A patologia é atualmente classificada em dengue sem sinais de alarme (DSSA), dengue com sinais de alarme (DCSA) e dengue severa (DS). A variedade de manifestações clínicas resulta da sua complexa patogênese, que apresenta influência de fatores virais, ambientais e do hospedeiro. A interleucina 10 (IL-10) é uma citocina anti-inflamatória envolvida com a resposta imune do hospedeiro contra a dengue. Polimorfismos de Nucleotídeo Único (SNPs) descritos para o seu gene codificante, tais como -819 C/T (rs1800871) e -1082 A/G (rs1800896), têm exibido diferentes perfis de associação com a doença na literatura. Considerando a heterogeneidade desses achados, o presente estudo objetivou investigar a prevalência e a influência dos polimorfismos em indivíduos sintomáticos, assintomáticos e controles para dengue na população de Parnaíba-PI, relacionando-os com o desenvolvimento das formas clínicas da doença. Os SNPs foram investigados por PCR em Tempo Real, em 119 indivíduos do grupo de pacientes com dengue, 85 indivíduos do grupo assintomático, e 129 indivíduos do grupo controle. As frequências genotípicas foram testadas quanto ao equilíbrio de Hardy-Weinberg. A associação com a dengue foi estimada pelo Teste do Qui-quadrado (x²) ou Teste Exato de Fisher e Odds Ratio. A análise dos dados foi realizada no BioEstat 5.0, sendo adotado um nível de significância de p<0.05. As análises haplotípicas e do desequilíbrio de ligação foram executadas no Haploview 4.2. As frequências genotípicas e alélicas do SNP -819 C/T não mostraram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos estudados. Ao analisar o SNP -1082 A/G observou-se significância estatística apenas em relação ao grupo assintomático. O genótipo A/G foi associado com susceptibilidade à dengue (p*= 0.01, OR= 2.17) e à DSSA (p*= 0.03, OR= 2.13). O genótipo G/G foi associado com susceptibilidade à dengue (p*= 0.03, OR= 3.98) e à DCSA (p*= 0.04, OR= 4.90). A combinação de genótipos A/G + G/G foi associada com susceptibilidade à dengue (p*= 0.004, OR= 2.37), à DSSA (p*= 0.02, OR= 2.23) e à DCSA (p*= 0.01, OR= 2.63). Todas as frequências genotípicas se encontraram em equilíbrio de Hardy-Weinberg. O alelo G foi associado com susceptibilidade à dengue (p*= 0.003, OR= 1.96), à DSSA (p*= 0.02, OR= 1.81) e à DCSA (p*= 0.01, OR= 2.14). Nas análises haplotípicas do gene IL-10, o haplótipo C-G foi associado com susceptibilidade à dengue (p= 0.0031), à DSSA (p= 0.0195) e à DCSA (p= 0.0045) também em relação ao grupo assintomático, enquanto que o haplótipo C-A foi associado com proteção contra a DCSA (p= 0.0265). A análise do desequilíbrio de ligação evidenciou forte desequilíbrio entre os SNPs do gene IL-10. Com relação a modulação das manifestações clínicas da dengue, apenas os portadores T do SNP -819 C/T apresentaram associação significativa de susceptibilidade à cefaleia (p*= 0.0264), e de proteção contra edemas (p*= 0.0323) e calafrios (p*= 0.0478). A frequência dos alelos T e G dos respectivos SNPs -819 C/T e -1082 A/G deste estudo diferiu significativamente da encontrada em algumas populações do mundo. Em síntese, os dados desta pesquisa sugerem uma possível influência do SNP rs1800896 sobre o fenótipo da dengue sintomática em uma amostra populacional da Região Nordeste do Brasil, sendo encontrado panorama semelhante quando este foi combinado com o SNP rs1800871, corroborando as evidências da literatura acerca do efeito aditivo de polimorfismos.