A expansão do número de pacientes imunocomprometidos a partir do advento de algumas doenças e das cirurgias de transplante, intensificou a eclosão de infecções fúngicas. Por outro lado, indivíduos saudáveis também podem tornar-se hospedeiros de doenças crônicas causadas por fungos, como é o caso da cromoblastomicose. Seu início ocorre por meio da implantação traumática subcutânea de agentes da família Herpotrichiellaceae, cuja predileção por viver no solo, em cascas de árvores e espinhos, geralmente de zonas tropicais e subtropicais, explica uma alta incidência no Brasil. A dificuldade de obter um diagnóstico correto, o qual é geralmente tardio, dificulta o tratamento, considerando que ainda não existe um padrão ouro para tal. A depender da extensão e gravidade das lesões, a terapêutica pode ser longa e nem sempre consegue assegurar a eficácia esperada. Neste contexto, o reposicionamento de fármacos já disponíveis no mercado bem como a combinação de fármacos podem ser alternativas para o problema. As estatinas são uma classe de moléculas que atuam na diminuição dos níveis séricos de colesterol, cujo processo dá-se através da inibição da 3-hidroxi-3- metilglutaril-CoA redutase. Essa enzima encontra-se vinculada à biossíntese de esteróis, tal como o ergosterol, lipídio semelhante ao colesterol, mas que diferentemente deste, é um dos principais componentes da membrana celular fúngica. Desse modo, o presente estudo objetivou avaliar a suscetibilidade de agentes da cromoblastomicose in vitro à atorvastatina e à rosuvastatina isoladas e em combinação com quatro antifúngicos (itraconazol, posaconazol, terbinafina e anfotericina B). O |
ensaio de suscetibilidade obedeceu ao protocolo padrão M38-A2 do Clinical and Laboratory Standards Institute. A avaliação do perfil de interação entre as estatinas e os antifúngicos foi avaliada pelo método de tabuleiro xadrez. A interação entre os fármacos foi obtida a partir do Cálculo do Índice Fracionário de Concentração Inibitória (IFCI). A atorvastatina e a rosuvastatina não foram capazes de inibir os fungos (n=20 e n=18, respectivamente) na faixa de concentração testada (CIM>256μg/mL). As combinações de posaconazol/atorvastatina (IFCI = 0,12 - 4) e posaconazol/rosuvastatina (IFCI = 0,15 – 2) renderam o maior número de resultados sinérgicos; doze do total de amostras testadas para cada interação. A combinação terbinafina/rosuvastatina, de forma semelhante, resultou em sinergismo para dez das dezoito amostras testadas. As demais combinações foram sinérgicas para apenas algumas amostras fúngicas. Não foi observado antagonismo em nenhuma das associações para ambas as estatinas. Dentre as combinações avaliadas, as associações entre posaconazol e atorvastatina e posaconazol e rosuvastatina, tiveram os resultados mais promissores frente aos agentes da cromoblastomicose. |