A cromoblastomicose é uma infecção granulomatosa da derme e da hipoderme, resultante da inoculação traumática de fungos negros. Visto que não é possível eleger uma terapia de escolha, a doença é considerada um desafio terapêutico e um grave problema de saúde pública. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de novas abordagens para o seu tratamento. O reposicionamento de fármacos surge como uma alternativa ao exaustivo processo de concepção de novos medicamentos. O micofenolato de mofetila, um inibidor da enzima inosina monofosfato desidrogenase, usado na clínica como imunossupressor, tem demonstrado atividade antifúngica in vitro contra fungos filamentosos e leveduriformes. Contudo, não há relatos quanto à sua atuação frente aos fungos negros que causam a cromoblastomicose. Logo, este estudo objetivou analisar a atividade antifúngica in vitro do micofenolato de mofetila, bem como a sua interação com dois antifúngicos (itraconazol ou terbinafina), contra doze isolados fúngicos da cromoblastomicose. A concentração inibitória mínima (CIM) foi determinada pela técnica de microdiluição em caldo descrita pelo protocolo M38-A2 do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI). O perfil de interação do micofenolato de mofetila com os antimicóticos foi avaliado pela técnica de tabuleiro de xadrez. Os antifúngicos inibiram o crescimento de todas cepas. O micofenolato inibiu o crescimento de quatro isolados fúngicos (128 μg/mL ≤ CIM ≤ 256 μg/mL). As combinações entre o imunossupressor e os antimicóticos não seguiram um padrão, apresentando interações sinérgicas e indiferentes. O potencial antifúngico do micofenolato está possivelmente atrelado à sua atuação sobre a inosina monofosfato desidrogenase, de modo a impedir a formação de bases nitrogenadas e consequente proliferação celular dos fungos. Os promissores resultados obtidos demonstram a possibilidade de uma nova aplicação do micofenolato, tanto isoladamente quanto em combinação com antimicóticos. Sugere-se a condução de novos estudos, a fim de avaliar, posteriormente, a sua eficácia na clínica. O micofenolato representa uma perspectiva para a redução dos impactos da cromoblastomicose no sistema de saúde e para a melhoria na qualidade de vida dos pacientes afetados pela infecção.