O clopidogrel é um antiagregante plaquetário muito utilizado no tratamento de doenças cardiovasculares; no entanto, seu uso pode ocasionar efeitos adversos, devido à variabilidade genética individual. Essa variabilidade pode ser explicada por polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs, do inglês single nucleotide polymorphisms) no gene CYP2C19, responsável pela metabolização do clopidogrel, dentre os quais destacam-se o CYP2C19*2 e CYP2C19*17 por apresentarem, respectivamente, perda e ganho de função da proteína correspondente. A fim de se evitar o surgimento de efeitos adversos ao uso do clopidogrel, inúmeros estudos têm sido realizados, em diferentes populações mundiais, com a finalidade de se investigar nos pacientes os genótipos dos SNPs CYP2C19*2 e CYP2C19*17, antes da prescrição terapêutica. No entanto, ao nosso conhecimento, não existem estudos que relatem a frequência dessesloci de interesse farmacogenético na população piauiense. Por esse motivo, este estudo tem como objetivo principal descrever as frequências alélicas, genotípicas e haplotípicas dos SNPs CYP2C19*2 e CYP2C19*17, bem como apresentar a distribuição dos diferentes fenótipos relacionados, em uma amostra miscigenada do Estado do Piauí. Todas as frequências genotípicas apresentaram-se dentro do equilíbrio de Hardy- Weinberg (p > 0,05). Foi encontrada uma frequência de 9,6% para o CYP2C19*2 e de 22% para o CYP2C19*17. O haplótipo mais prevalente foi o *1/*1, com 68,3%, seguido do *1/*17 com 22,1% e *1/*2 com 9,6%, o que indica que a maior parte da população apresenta alelos funcionais para o CYP2C19*2 e CYP2C19*17. As frequências alélicas do presente estudo foram comparadas com frequências alélicas de diferentes populações mundiais e foi percebido que em relação ao CYP2C19*2 não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em regiões brasileiras (p > 0,05), mas em regiões da Ásia e da África essas diferenças foram percebidas (p < 0,05). OCYP2C19*17 apresentou diferenças significativas com uma população ameríndia brasileira, e com populações latino-americanas, asiáticas e europeias (p < 0,05). Os fenótipos mais frequentes foram o normal com 46,1% e o rápido com 31,9%, mostrando que o genótipo de um paciente pode interferir na metabolização de um medicamento. Não foi encontrada correlação entre ancestralidade e número de cópias do *2 e *17 (p > 0,05). Os resultados desse estudo podem guiar políticas públicas de prevenção dos efeitos adversos do uso do clopidogrel na população piauiense.