As infecções fúngicas têm papel importante na morbimortalidade humana. Apesar disso, pesquisas que visam à busca de terapias ou fármacos mais seguros e efetivos, ainda estão defasadas quando em comparação com doenças causadas por outros patógenos. Dentre as infeções causadas por fungos, pode-se citar a cromoblastomicose, que apresenta aspecto polimórfico, acometendo a pele e o tecido subcutâneo. Essa doença ocorre pela implantação traumática de fungos dematiáceos, e até o momento não possui uma terapia padrão. Os vegetais são importantes e promissores fontes de novos fármacos. A espécie Pilocarpus microphyllus, popularmente conhecida como ‘jaborandi’, é uma planta nativa das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Vários alcaloides foram isolados dessa planta, dentre eles, a pilocarpina e a epiisopiloturina, a quais apresentam atividades farmacológicas já descritas na literatura. Porém, carecem de análise no que se refere à atividade antifúngica. Este trabalho teve por objetivo avaliar a susceptibilidade fúngica aos alcaloides obtidos a partir das folhas do jaborandi, através de ensaios in vitro. Inicialmente, foi realizada uma prospecção de atividade antifúngica com sete alcaloides contra diversos gêneros de fungos patogênicos. A partir destes resultados, a pilocarpina foi selecionada para avaliar seu efeito em combinação com a terbinafina contra estes mesmos isolados fúngicos. A epiisopiloturina também foi avaliada quanto ao seu perfil de atividade antifúngica, bem como a sua interação com quatro antifúngicos frente a agentes da cromoblastomicose. Os testes de susceptibilidade foram conduzidos de acordo com os métodos de microdiluição propostos nos protocolos M27-A3 e M38-A2 do Clinical and Laboratory Standards Institute. As interações dos alcaloides com os fármacos antifúngicos foram realizadas usando o método tabuleiro de xadrez. Para análise do efeito das alterações morfológicas causadas pelos tratamentos, imagens foram obtidas utilizando microscopia de força atômica. Dos alcaloides testados, o cloridrato de pilocarpina e a pilosina apresentaram atividade antifúngica isoladamente. A interação da pilocarpina com a terbinafina se mostrou sinérgica para todos os isolados testados. A
epiisopiloturina, quando testada isoladamente, não apresentou atividade antifúngica. A associação da mesma, com os antifúngicos: terbinafina, anfotericina B e posaconazol foi sinérgica para todos os agentes da
cromoblastomicose avaliados. Os resultados obtidos nos permitem propor um mecanismo de ação para a epiisopiloturina, onde a mesma agiria intracelularmente, dependendo da desestruturação da membrana plasmática para poder atuar. Este trabalho traz resultados promissores para a terapia antifúngica, no qual a combinação com compostos naturais poderia reduzir o aparecimento da resistência ao passo que diminuiria a toxicidade apresentada pelos tratamentos atuais. A proposição de um mecanismo de ação para epiisopiloturina, favorece um melhor entendimento das atividades apresentadas por este, abrindo caminhos para mais pesquisas com os alcaloides provenientes do jaborandi.