PARTICIPAÇÃO SOCIAL E SOFRIMENTO MENTAL COMO INDICADORES DE ESTIGMAS EM PESSOAS ACOMETIDAS PELA HANSENÍASE
Hanseníase. Estigma Social. Participação Social. Sofrimento Mental.
A hanseníase está entre as doenças negligenciadas e relacionadas à pobreza, que afeta predominantemente indivíduos mais vulneráveis, contribuindo para a desvalorização individual, a validação de estigmas e a construção de uma identidade deteriorada. No Piauí, em 2014, o coeficiente de prevalência da hanseníase foi de 2,49 casos por 10.000 habitantes (quase 3 vezes maior que o preconizado pela Organização Mundial de Saúde) e coeficiente de detecção de 33,74 casos por 100.000 habitantes, considerado muito alto. A cidade de Floriano, no mesmo ano apresentou coeficiente de detecção de 85,18 casos por 100.000 habitantes, considerada, portanto, um município hiperendêmico no estado. Nessa perspectiva de (re)conhecimento da doença e de seus aspectos psicossociais, o presente estudo, como parte integrante do macroprojeto IntegraHans/PI, pretende investigar participação social e sofrimento mental como indicadores de estigmas em pessoas acometidas pela hanseníase, identificando e classificando o grau de participação social e de sofrimento mental dos casos referência e analisando a relação entre estigma em hanseníase e seus indicadores psicossociais. Trata-se de estudo quantitativo transversal, com 177 participantes, constituído por meio de amostragem casual simples dos casos identificados no campo e referenciados no SINAN, a partir da série histórica de 2001 a 2014. Os dados foram coletados por questionário socioeconômico e demográfico e Escalas de Restrição à Participação Social e de Sofrimento Mental (SRQ-20). Para análise estatística, utilizou-se o programa SPSS versão 20.0. A análise dos dados socioeconômicos e demográficos foi obtida por medidas de frequência absoluta. Foram realizadas associações univariadas com a participação social e o sofrimento mental; correlação de Pearson entre ambas e associações bivariadas entre as mesmas e suas variáveis preditoras. Nas análises de associações foi aplicado o teste Qui-quadrado e utilizado nível de significância de 5%. Considerando os aspectos éticos, esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPI, sob o Parecer: 1.115.818. Como resultados houve predomínio de pessoas do sexo feminino, com idade entre 31 e 67 anos, pardas, católicas, aposentadas, com ensino fundamental incompleto e renda média familiar entre 1 e 3 salários mínimos. A maioria dos participantes não apresentou nenhuma restrição significativa à participação social, nem indicativo de sofrimento mental. Contudo, numa correlação moderada entre estas variáveis pôde-se perceber a influência do sofrimento mental na participação social por meio de sentimentos de inutilidade, desinteresse e ansiedade. Mesmo não sendo mensurado diretamente, o estigma se mostrou imbricado com o ambiente vivido, as condições de saúde e sociais, fatores educacionais e autoimagem. Espera-se, desse modo, que esta pesquisa embase estudos posteriores para aprofundamento do estigma em hanseníase, norteie condutas diferenciadas dos profissionais de saúde acerca da doença e contribua para que esta seja de fato compreendida como uma doença que não se limita aos sintomas físicos, mas se agrava pelas questões psicossociais e as singularidades de cada pessoa acometida.