A violência contra a mulher é um fenômeno complexo que tem raízes na desigualdade de gênero. Apesar dos números crescentes desse tipo de violência, muitas mulheres procuram atendimento nos serviços de saúde para tratar de seus sintomas físicos, mas não relatam aos profissionais como eles foram desencadeados, omitindo as agressões. Neste aspecto, objetivou avaliar a percepção dos médicos da Atenção Primária de Teresina sobre à tolerância social de violência contra as mulheres. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório, com abordagem quantitativa do tipo transversal, desenvolvido com 158 médicos da ESF de Teresina- Piauí. A coleta de dados aconteceu de março a abril de 2019, por meio de questionário baseado em perguntas pré-formuladas e adaptadas do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SISP) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), composta por 16 frases relacionadas à Tolerância à Violência Contra Mulher. Para verificar a associação entre as variáveis qualitativas foi usado o teste Qui-quadrado de Pearson e o teste Exato de Fisher. Os dados foram tabulados em planilha eletrônica Microsoft Office Excel e analisados no programa IBM Statistical Package for the Social Sciences versão 20.0. O nível de significância adotado foi de α = 0,05. Predominou sexo feminino (64,6%), a faixa etária de 30 a 59 anos (63,3%), casados (69%), católicos (93%), com menos de 5 anos de formado (28,2%), oriundos de universidades públicas (62,7%), sem especialização (53,8%) e atendendo em postos de saúde da zona sul (34,2%) da cidade. Observou-se que a percepção dos médicos sobre a violência perpetrada por parceiro íntimo é influenciada pela categoria de gênero, idade, tempo de formação, estado civil, especialização e local aonde atendem. Os resultados apontam que os médicos do sexo masculino, especialistas, com mais de 25 anos de formação e com mais de 60 anos são menos tolerantes a violência contra as mulheres. O resultado do estudo contribui para que os médicos possam refletir sobre a condução de uma prática assistencial à mulher em situação de violência, dando-lhes um acolhimento orientado pelo modelo de saúde social.