Introdução: A pandemia de covid-19 teve um grande impacto em todo o mundo, afetando diversos setores da sociedade, inclusive a educação. Nesse contexto, a prevalência da hesitação vacinal é particularmente alta entre crianças e adolescentes entre diferentes faixas etárias, regiões e países, pois os mesmos apresentam uma variedade de razões e preocupações que influenciam sua decisão de não se vacinarem, contribuindo assim, para a resistência das famílias quanto à eficácia e segurança das imunizações contra a covid-19. Objetivo: Estimar a prevalência e fatores associados à hesitação ao uso da vacina contra covid-19 na população de crianças e adolescentes no estado do Piauí, segundo as características sociodemográficas, econômicas e de situações de saúde, consoante relato dos responsáveis pelo domícilio. Metodologia: Este estudo se caracteriza como transversal, analítico, de base populacional domiciliar, com dados de entrevistas que ocorreram durante visita a domicílios sorteados, por meio de formulário eletrônico que compreenderam uma subamostra de 313 crianças e adolescentes de 5 a 19 anos de idade – integrando uma pesquisa mais ampla, participante de um inquérito sorológico no estado do Piauí (EpiCOVID-Piauí), realizado no período de março a novembro de 2022. Estimou-se a prevalência de indicadores, segundo características sociodemográficas, econômicas, situação de saúde, por meio das diferenças estatísticas, através do teste que-quadrado de Pearson. Calculou-se a estimativa de prevalência da hesitação vacinal e a razão de prevalência (RP), com intervalo de confiança de 95% (IC 95%), estimado pela regressão de Poisson. O nível de significância adotado para os testes foi de p < 0,05. As análises do plano amostral complexo foram realizadas no programa STATA (versão 16.1). Resultados: A prevalência de hesitação vacinal foi de 9,8% (IC95% 5,2-18,0), não apresentando diferenças significativas entre a capital e o interior (9,3% e 10,1%, respectivamente, com um Risco Proporcional - RP - de 1,09), sexo masculino (9,9 %; RP = 1,03; IC95% (0,43-2,42), faixa etária de 5 a 9 anos apresenta a maior taxa de hesitação (22,2%; RP = 1,00; IC95% 10,4-41,2) de escolaridade, com ensino fundamental completo (18,8%; RP = 1,00; IC95% 4,4-53,9) pertencentes às religiões de denominação evangélica (20,1 %; RP = 3,32; IC95% 0,72-15,42) e diferenças significativas também foram observadas em relação ao número de ≤4 moradores no domicílio (16,6%; RP = 1,00; IC95% 0,74-63,51) e que possuem acesso à rede de esgoto (19,5%; RP = 3,40; IC95% 0,99-11,58). No entanto, algumas características socioeconômicas e demográficas, assim como região e raça/ cor da pele, não tiveram diferença estatística. Percebeu-se que, em relação às condições de saúde dos entrevistados, aqueles que não possuem um plano de saúde apresentam uma taxa de hesitação vacinal de 10,6%. Com relação à razão de prevalência, a faixa etária, tanto entre os indivíduos 10 e 14 anos, quanto os de 15 a 19 anos, apresentaram menor prevalência (respectivamente 13% e 11%) de hesitação vacinal (RP: 0,13; IC95%: 0,04-0,45; RP: 0,11; IC95%: 0,03-0,35). Ter 5 ou mais moradores no domícilio também apresentou cerca de 15% menor prevalência de ter hesitação vacinal (RP:0,15; IC95%: 0,04-0,55), assim como ter doenças cardiovasculares apresentou 4,48 maior razão de prevalência para hesitação vacianal (RP:4,48; IC95%: 1,13-17,72). Conclusão: Mediante o exposto, observa-se que a prevalência de hesitação vacinal na população de crianças e adolescentes apresenta associação com fatores individuais, contextuais e clínicos que revelam os grupos etários e contextos mais resistentes, devendo merecer atenção especial das estratégias públicas para garantir a ampla vacinação dessa população.