A cárie dentária afeta pessoas de todas as faixas etárias e gêneros e
pode causar comprometimento das funções do sistema estomatognático,
além de alterações estéticas. Mesmo com a diminuição na prevalência e
incidência da cárie, os índices referentes a essa doença ainda se
apresentam expressivos, afetando uma parcela significativa da
população mundial, dentre estas, crianças. Estudos que avaliam o
impacto da saúde bucal na qualidade de vida de indivíduos podem
contribuir para a implantação de políticas públicas, principalmente as
que visam diminuir as desigualdades sociais e definir as necessidades
de tratamento. Desta forma, este estudo transversal teve como objetivo
avaliar o impacto da cárie dentária na qualidade de vida de
pré-escolares. A amostra do estudo foi constituída por 566
pré-escolares
com idade de 5 anos, matriculados em instituições públicas e privadas
do município de Teresina, PI, Brasil. Um questionário foi aplicado aos
responsáveis para obtenção de dados socioeconômico-demográficos.
Instrumento de qualidade de vida validado para população brasileira
(Pediatric Quality of Life Inventory – PedsQL) foi aplicado para as
crianças e seus responsáveis. O exame dentário foi realizado por
examinador previamente treinado e calibrado (Índice kappa = 0,96).
Para análise estatística foram realizadas análises descritiva e
regressão de Poisson (p<0,05). Os resultados demonstraram que 50,2%
das crianças apresentaram experiência de cárie, sendo que 14,6%
exibiram apenas os dentes anteriores afetados, 45,1% somente os dentes
posteriores e 40,3% os anteriores e posteriores. Dos que tiveram
experiência de cárie apenas 3,5% não necessitavam de tratamento. Foi
observada associação entre experiência de cárie e pior qualidade de
vida no domínio de saúde bucal tanto na percepção da criança
(RR=0,981; IC95%= 0,97-0,99) quanto dos pais (RR= 0,955; IC95%=
0,94-0,97). De acordo com a percepção das crianças, cárie em dentes
posteriores foi associada a pior qualidade de vida no domínio
capacidade física (RR=0,985; IC95%= 0,97-0,99). Na percepção das
crianças, observou-se associação entre pior qualidade de vida e sexo
feminino no domínio de capacidade física (RR=0,983; IC95%= 0,97-0,99),
aspecto emocional (RR=0,984; IC95%= 0,97-0,99); renda familiar menor
que 2 SM e pior qualidade de vida no domínio capacidade física (RR=
0,987; IC95%= 0,97- 0,99) e saúde bucal da criança (RR 0,979; IC95%=
0,97-0,99). Experiência de cárie impactou negativamente na qualidade
de vida relacionada à saúde bucal dos pré-escolares na
percepção das crianças e dos pais.