INTRODUÇÃO: A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde caracteriza como comportamento autoprovocado as lesões e envenenamentos realizados intencionalmente pela própria pessoa contra si mesmo, assim como as tentativas de suicídio. Tais condutas são complexas e multicausais, tendo como fatores de risco questões econômicas, sociais, biológicas, culturais e história de vida. OBJETIVO: Analisar as notificações de lesão autoprovocada em adolescentes no ambiente escolar. METODOLOGIA: Estudo transversal analítico, com abordagem quantitativa e análise de série temporal. Foram analisadas as notificações de lesão autoprovocada em adolescentes de 10 a 19 anos, ocorridas no ambiente escolar no Brasil, registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, no período de 2011 a 2018. Verificaram-se as associações estatísticas por meio do teste do qui-quadrado de Pearson (X²), com nível de significância de 5%. Foi realizada regressão de Poisson para estimar fatores associados por meio do cálculo da razão de proporções e respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%).A tendência temporal foi calculada por meio do modelo de regressão linear de Prais-Winstein. RESULTADOS: Foram notificados 1.989 casos de lesão autoprovocada em adolescentes nas escolas do Brasil; a maioria das vítimas era do sexo feminino (77,1%), com idade de 10 a 14 anos (57,3%), de cor branca (54,9%), residentes na zona urbana (88,7%), notificados em serviços da região Sudeste (46,7%). Residir em zona urbana foi associado negativamente à notificação de lesão autoprovocada na escola (RP=0,72; IC95%: 0,63-0,83), o evento foi mais frequente quando foram utilizados como meios de autolesão: força corporal, objetos contundentes, objetos cortantes e ameaça (p<0,05). A taxa de notificação variou de 0,6 a 4,5/100 mil, com tendência crescente (VPA=62,7%; IC95% 36,1;94,6), tanto para sexo feminino (VPA=66,0%; IC95% 39,0; 98,3) quanto masculino (VPA=55,2%; IC95% 29,9; 85,4). A região Norte apresentou tendência de estabilidade; as regiões Sudeste e Sul apresentaram tendência crescente, destacando-se o Rio de Janeiro (VPA=85,5%; IC95% 58,0; 117,8) e o Paraná (VPA=73,6%; IC95% 41,9; 112,3). No Centro-Oeste somente o Mato Grosso do Sul apresentou incremento (VPA=54,5%; IC95% 16,9;104,2). CONCLUSÃO: Houve tendência de aumento na notificação de lesão autoprovocada em adolescentes no ambiente escolar no Brasil. Faz-se necessário que os serviços de saúde e educação deem maior atenção aos adolescentes com comportamento de risco para lesões autoprovocadas, priorizando ações de prevenção assim como suporte adequado os grupos de risco e suas famílias, devendo também aumentar o escopo de treinamento dos profissionais da educação para realização das notificações de maneira adequada.