Introdução: A adolescência é uma fase crucial do desenvolvimento humano, caracterizada por diversas mudanças e novas experiências. Durante a adolescência, ocorrem transformações físicas, hormonais, psicológicas e emocionais. Além disso, os adolescentes enfrentam a necessidade de autoafirmação pessoal, uma característica desse período, o que pode tornar essa fase complexa e muitas vezes conturbada, aumentando a vulnerabilidade dos adolescentes em relação ao uso de substâncias psicoativas. Objetivo: Analisar os fatores associados ao uso de álcool e outras drogas em adolescentes quilombolas do Estado do Piauí. Métodos: Estudo transversal, censitário, realizado na comunidade remanescente quilombola Mimbó/PI, no período de julho a agosto de 2023 com 78 participantes. Os dados foram analisados com a utilização do software Stata, versão 11. As variáveis independentes foram idade; sexo; gênero; orientação sexual; raça/cor; religião; escolaridade; situação conjugal; renda familiar; você tem filho(s); reside com quem e trabalho remunerado. Considerou-se o uso de álcool e outras drogas como variável dependente, sendo avaliado pelo questionário DUSI. Foi realizada a análise bruta por meio do qui-quadrado de Pearson para avaliar a associação entre o desfecho (Uso de álcool e outras drogas) e as variáveis independentes e a análise múltipla usando-se a regressão logística múltipla, com cálculo de odds ratio ajustada (ORaj) e intervalos de confiança de 95% (IC95%). Após a análise bruta, as variáveis com um valor de p ≤ 0,20 permaneceram no modelo. Na análise múltipla, foram considerados significativos os valores de p < 0,05. Resultados: identificou-se uma predominância de adolescentes do sexo feminino (51,3%); a maioria com idade entre 15 e 17 anos (48,7%). Em relação ao gênero (46,2%) se identificaram como homem; (50,0%) mulher. Quanto à orientação sexual (67,9%) referiram-se heterossexuais; (3,8%) homossexual-gay; (5,1%) homossexual-lésbica e (11,5%) bissexual; autodeclarados pretos (78,2%); católicos (26,9%); estudavam no ensino fundamental II (6º ao 9º ano) (67,9%); solteiros (87,2%). Em relação à renda familiar (60,3%) dos adolescentes relataram renda de até 1 salário-mínimo; residiam com pai e mãe (37,2%) e somente com mãe (33,3%); a maioria trabalhava de forma remunerada (53,8%). Em relação ao tipo de droga usada pelos adolescentes no último mês conforme o questionário DUSI, houve predomínio do uso de drogas lícitas, sendo o álcool o mais frequentemente usado (74,6%); seguido pelo tabaco (61,0%) e analgésicos sem prescrição médica (50,8%). Seguidas pelas drogas ilícitas: maconha (35,6%) e os inalantes (23,7%). Não possuir religião aumentou as chances de uso de álcool e outras drogas. Os resultados do padrão de uso de álcool e outras drogas dos adolescentes quilombolas baseado na classificação adotada no questionário DUSI. Desses adolescentes 19 (24,4%) não são usuários, 38 (48,7%) o uso foi experimental, 15 (19,2%) foram classificados como uso abusivo e 6 (7,70 %) uso pesado. Conclusão: Foi encontrado um padrão de uso experimental na maioria dos adolescentes, estando associado a não possuir religião. Evidenciando o álcool como a droga mais usada. Neste sentido, é necessária a elaboração de estratégias institucionais locais para prevenir o uso de álcool e outras drogas entre os adolescentes quilombolas.