A presente dissertação se propõe a investigar os elementos metodológicos, conceituais e normativos da teoria da justiça do Filósofo alemão Axel Honneth. Honneth integra o rol dos filósofos contemporâneos que se propõe a realizar uma teoria crítica da sociedade, na esteira de Habermas e do espírito que norteia a Escola de Frankfurt desde a sua criação na década de 20. Superando as suas reservas constantes de Luta por Reconhecimento, sua primeira grande obra, Honneth, a partir de Sofrimento de Indeterminação, realiza uma reatualização da obra Filosofia do Direito, de Hegel, empreendimento esse que alcança sua culminância com a obra O Direito de Liberdade, onde o autor se propõe a realizar uma teoria da justiça imanente, ou seja, a partir das práticas sociais. Nessa obra, Honneth realiza uma reconstrução da liberdade na sociedade moderna, e empreende uma atualização do conceito de "eticidade", também formulado por Hegel na obra citada, que na teoria honnethiana ganha uma conformação democrática. Assim, Honneth percorre os caminhos históricos e teóricos do desenvolvimento da liberdade, passando pelas noções de liberdade jurídica e moral, até alcançar a fase final do desenvolvimento da sua concepção de "espírito objetivo" que é a liberdade social, no caso, a "eticidade democrática". A eticidade em Honneth se desdobra nas esferas das relações pessoais, do mercado e da vida pública democrática, as quais são marcadas normativamente por laços de cooperação e solidariedade, o que configuraria o seu traço terapêutico em relação à incompletude das liberdades jurídica e moral. E é na "eticidade democrática", ou seja, na vida pública democrática, que se realiza o ideal democrático, estabelecendo o autor as bases para uma teoria democrática radical, ancorada na cooperação e na reflexividade. Aqui se situa o cerne da presente pesquisa: a análise do conceito de "eticidade democrática" em Honneth, suas condições de efetivação e seus elementos normativos, de modo a que se possa compreender o esquema teórico que estrutura a teoria democrática do autor. A dissertação se desenvolve em três etapas: na primeira, analisa-se a ontologia social honnethiana e o seu método da "reconstrução socionormativa"; na segunda, a evolução do conceito de liberdade, reconstruindo-se as bases teóricas das liberdades jurídica, moral e social; e, por fim, no último capítulo, busca-se realizar uma análise crítica do conceito de "eticidade democrática", partindo inicialmente da noção desenvolvida pelo autor em Sofrimento de Indeterminação até as elaborações sobre essa categoria empreendidas por Honneth em O Direito de Liberdade, objetivando extrair as contribuições teóricas que o autor apresenta para o debate sobre justiça e democracia na modernidade.