A hanseníase é uma doença infectocontagiosa que possui uma história milenar, mas que somente há poucas décadas tornou-se curável. Neste sentido, ainda é possível encontrar muitas pessoas que foram diagnosticadas com a doença numa época em que o tratamento era baseado na exclusão e no isolamento, sendo os hospitais-colônia uma das principais referências deste paradigma terapêutico. Em vista disso, uma parcela dos pacientes internados nos hospitais-colônia tiveram seus vínculos familiares e comunitários rompidos e/ou fragilizados, o que os fez permanecer nestas instituições, mesmo após a descoberta da cura da hanseníase, fenômeno que também é observado no Hospital Colônia do Carpina em Parnaíba-PI. Neste sentido, esta pesquisa tem como objetivo geral identificar e analisar as representações sociais dos moradores do Hospital Colônia do Carpina da cidade de Parnaíba-PI sobre o envelhecimento, a hanseníase e sobre a instituição na qual vivem. Como objetivos específicos: investigar e discutir a produção científica sobre o estudo da hanseníase a partir do referencial teórico da Teoria das Representações Sociais (TRS); identificar as representações sociais do envelhecimento entre os moradores do Hospital Colônia do Carpina da cidade de Parnaíba-PI; apreender as representações sociais da hanseníase entre os moradores do Hospital Colônia do Carpina da cidade de Parnaíba-PI; bem como verificar as representações sociais sobre o Hospital Colônia do Carpina entre os moradores da instituição. Deste modo, foram realizados três estudos. O objetivo, método, resultados, discussões e conclusões de cada um dos estudos que compõem esta pesquisa estão resumidos abaixo. Estudo 1. As representações sociais e o estudo da hanseníase: uma revisão sistemática da literatura. O objetivo deste estudo foi investigar e discutir a produção científica sobre o estudo da hanseníase a partir do referencial teórico da TRS. Trata-se de uma revisão sistemática. Para tanto, realizou-se uma busca de artigos nas bases de dados Lilacs, Scielo, Periódicos Capes, Pubmed e Scopus, adotando-se como critérios de inclusão: estudos empíricos, nos idiomas português e inglês, disponíveis em texto completo, sem restrição de ano e que abordavam a hanseníase pela perspectiva da TRS; a coleta ocorreu em dezembro de 2017. A busca geral de artigos resultou em 51 publicações científicas, mas apenas 9 artigos atenderam os critérios de inclusão. Os estudos recuperados podem ser divididos em três categorias: “RS sobre a hanseníase, contágio e tratamento”; “RS da hanseníase em interface com o gênero”; e, finalmente, “representações de ex-internos dos antigos hospitais-colônia”. Entre os estudos, destaca-se que a RS da hanseníase e do contágio ainda permanecem ancoradas na lepra, o que contribui para que o tratamento seja representado como uma batalha difícil de vencer. Esta situação se coaduna ao caráter de estabilidade inerente às RS, já que a hanseníase, até a década de 1970, era denominada pelo termo lepra. Por conta dos padrões sociais impostos aos gêneros, a mulher tende a representar a hanseníase como um castigo divino que impacta o âmbito doméstico e a aparência física; já o homem prioriza a representação da hanseníase como uma ameaça ao seu papel de provedor. As RS dos ex-internos dos hospitais-colônia evidenciam que, se por um lado, a colônia era um espaço de controle e segregação, a atual descentralização das ações de saúde vulnerabilizam o hanseniano quanto ao preconceito e à discriminação. Estudo 2. Moradores do Hospital Colônia do Carpina e os significados atribuídos à hanseníase, ao envelhecimento e à própria instituição. O objetivo geral deste estudo foi identificar e analisar, por meio das redes semânticas, as representações sociais dos moradores do Hospital Colônia do Carpina da cidade de Parnaíba-PI sobre a hanseníase, o envelhecimento e sobre a própria instituição. Contou-se com a participação de 16 pessoas, sendo a maioria do sexo masculino (87,5%), curados da hanseníase e com idade entre 48 a 85 anos (M = 67,0 anos; DP = 9,7). Os dados foram coletados por um questionário sociodemográfico e pelo Teste de Associação Livre de Palavras (TALP), utilizando-se os estímulos-indutores: “hanseníase”, “envelhecimento” e “Hospital Colônia do Carpina”, sendo que os participantes deveriam evocar 5 palavras em um tempo de 3 minutos e em seguida hierarquizá-las. Os dados oriundos do questionário sociodemográfico foram analisados por meio do software SPSS for Windows na versão 21 enquanto o material coletado no TALP foi categorizado e analisado pela Teoria das Redes Semânticas: núcleo da rede (NR), peso semântico (PS) e distância semântica quantitativa (DSQ). Finalmente, a interpretação dos dados foi empreendida a partir da Teoria das Representações Sociais. As principais definidoras para o estímulo-indutor “hanseníase” foram preconceito e sequelas, para “envelhecimento” foram abandono, velho e velhice e para “Hospital Colônia do Carpina” foram comunidade e família. Embora o significante lepra não tenha figurado no campo representacional da representação social da hanseníase, salienta-se que a evocação dos termos preconceito e sequelas evidencia que a hanseníase ainda guarda elementos da representação da lepra. A representação social do envelhecimento se ancorou num esquema conceitual associado à fase da velhice enquanto marcada pelo abandono e que, por sua vez, objetiva-se na figura do velho, demonstrando assim, que os participantes possuem um conhecimento limitado sobre esse processo. Quando o adoecimento por hanseníase ainda significava rejeição e exclusão social, o hospital-colônia era o lugar onde os hansenianos encontravam acolhimento e aceitação, fato que justifica a ancoragem da representação do Hospital Colônia do Carpina nos significantes comunidade e família. Por fim, espera-se que este estudo contribua para uma mudança dos elementos negativos associados à representação da hanseníase e do envelhecimento. Estudo 3. Ainda em construção.