A institucionalização de adolescentes em Acolhimento Institucional é uma realidade cada vez mais presente no Brasil, fruto do abandono, negligência e violência ocasionados pelos próprios pais ou responsáveis. Portanto, os adolescentes são marcados pelos vínculos fragilizados e a permanência na instituição é a única forma de garantir seus direitos até que a haja a reintegração ou reinserção familiar. Assim, espera-se que a Casa de Acolhimento atue como espaço de proteção e que se dê especial atenção ao vínculo, pois possui como proposta a reconstrução socioafetiva dos acolhidos. Desse modo, a dimensão relacional e espacial pode ser identificada como elemento fundamental na vivência institucional do adolescente que, deve visar entre os seus objetivos, a ressignificação da sua vida e a projeção para o futuro. Nesse cenário, deparamo-nos com o espaço e o outro em um misto expressivo de afetos que figuram na (re)construção de significados e sentidos sobre o que é chegar e partir: a infância, a adolescência, a referência de casa e de família, os profissionais de referência, os companheiros de casa, uma futura família. Assim, há também uma reconstrução afetiva constante que pode ser beneficiada por uma acolhida hospitaleira que possibilite a quebra do sentimento de abandono e a recuperação da autoestima, em razão de ter alguém e um espaço que acolham com afeto e cuidado. Entende-se que essa vivência pode proporcionar vinculação afetiva ao lugar, apego, desenvolvimento de vínculos interpessoais, construção de referenciais identificatórios e um cuidado emancipatório ofertado através da hospitalidade (in)condicional. No sentido de aprofundar-se acerca da temática, o objetivo desta pesquisa será compreender a relação entre a temporalidade do acolhimento institucional e a projeção para o futuro do acolhido e, especificamente, perceber se as práticas de hospitalidade contribuem para o desenvolvimento sócioafetivo dos adolescentes na Casa de Acolhimento Infanto-Juvenil; discutir a relação entre afetividade, espaço acolhedor e hospitalidade; identificar como se dá o exercício de hospitalidade no acolhimento institucional. O caminho metodológico que se pretende seguir na construção desta pesquisa é de caráter qualitativa descritiva, utilizarse-á como forma de coleta de dados a entrevista em profundidade individual, a observação participante e os mapas afetivos adaptados de Bomfim; e, como método, a análise categorial temática a partir de Minayo. Por fim, as considerações parciais, que partem das expectativas acerca do que a pesquisa poderá produzir como resultado na construção de conhecimento na área do acolhimento institucional. Neste momento não há a intenção de apresentar conclusões sobre o tema, mas de apresentar reflexões primeiras sobre as possibilidades e os desafios da pesquisa, uma vez que esses espaços são permeados por dor, quando se refere a rompimentos de vínculos, e a vida, quando há a possibilidade de se (re)fazer, (re)criar e (re)construir um caminho que se dá com outro.