A institucionalização de adolescentes em Acolhimento Institucional é uma realidade cada
vez mais presente no Brasil, fruto do abandono, negligência e violência ocasionados pelos
próprios pais ou responsáveis. Portanto, os adolescentes são marcados pelos vínculos
fragilizados e a permanência na instituição é a única forma de garantir seus direitos até que
a haja a reintegração ou reinserção familiar. Desse modo, a dimensão relacional e espacial
pode ser identificada como elemento fundamental na vivência institucional do adolescente
que, deve visar entre os seus objetivos, a ressignificação da sua vida e a projeção para o
futuro. Assim, há também uma reconstrução afetiva constante que pode ser beneficiada por
uma acolhida hospitaleira que possibilite a quebra do sentimento de abandono e a
recuperação da autoestima, em razão de ter alguém e um espaço que acolham com afeto e
cuidado. Entende-se que essa vivência pode proporcionar vinculação afetiva ao lugar,
apego, desenvolvimento de vínculos interpessoais, construção de referenciais identificatórios
e um cuidado emancipatório ofertado através da hospitalidade. No sentido de aprofundar-se
acerca da temática, o objetivo desta pesquisa foi compreender a relação entre a
temporalidade do acolhimento institucional e a projeção para o futuro do acolhido e,
especificamente, perceber se as práticas de hospitalidade contribuem para o
desenvolvimento sócioafetivo dos adolescentes na Casa de Acolhimento Infanto-Juvenil;
discutir a relação entre afetividade, espaço acolhedor e hospitalidade; identificar como se dá
o exercício de hospitalidade no acolhimento institucional. Tendo como abordagem
metodológica a pesquisa qualitativa descritiva, utilizamos como recursos a entrevista em
profundidade individual, a observação participante e os mapas afetivos adaptados de
Bomfim; e, como método, a análise categorial temática a partir de Minayo. No que se refere
a apresentação e análise dos resultados, seis movimentos foram enfatizados: 1) A
Necessidade de Hospitalidade, apresentando quais as necessidades evidenciadas pelos
adolescentes em sua trajetória; 2) O Lugar da Hospitalidade, expõe como este lugar é
sentido pelo acolhidos; 3) Os Recursos da Hospitalidade, ressaltando como se dava a
hospitalidade na Casa de Acolhimento em forma de ações, palavras ou sentimentos; 4) A
Hostipitalidade, demostrando que ainda é possível encontrar nesses espaços fragmentos de
hostilidade; 5) O Fim da Hospitalidade e a Continuação da Jornada, apresenta o fim da estadia na Casa de Acolhimento e o início de uma nova jornada por caminhos já trilhados
ou nunca trilhados; 6) Sobre Lugar Nenhum; exibe o que não propusemos pesquisar, porém
apresenta-se como marcas vivas nos participantes da pesquisa. Notamos que a
singularidade da vivência desses sujeitos é marcada por processos pessoais de
amadurecimento, assim como são atravessados por relações de afetividade, hospitalidade e
hostipitalidade. Sendo a Casa de Acolhimento um lugar propício para a hospitalidade
(in)condiconal, embora que ainda possa sentir a presença da hostilidade em alguns cenários.