A infância tem sido marcada pelas transformações do mundo contemporâneo. Numa sociedade guiada pela lógica capitalista na qual o consumismo, a alta performance, a medicalização e a busca por identidades padronizadas são aspectos marcantes, as formas de sofrer das crianças estão perpassadas por problematizações sobre as demandas por produtividade, o uso das telas, a influência da publicidade, a patologização etc. Assim, tendo em vista a proximidade do tema sofrimento com a atuação da psicologia, a presente pesquisa objetiva compreender as concepções dos estudantes de psicologia sobre o sofrimento infantil na contemporaneidade. Por meio de um delineamento qualitativo, foram realizadas cinco entrevistas online por meio do aplicativo Whatsapp partindo da pergunta “o que você acha que faz as crianças sofrerem hoje?”. Utilizou-se a proposta de Bardin para a análise de conteúdo das falas dos entrevistados. Tal análise deu origem a dois eixos de interpretação: “Eixo I – Macrosofrimento infantil: a culpa é do sistema?” e “Eixo II - Microsofrimento infantil: a culpa é da família?”. No primeiro eixo, as categorias envolvem uma concepção de sofrimento ligada a questões mais amplas como o sistema econômico, a cultura do consumo e a patologização da infância. No segundo eixo a perspectiva de sofrimento foca no papel da família e na insatisfação dos estudantes com as discussões sobre esse tema na graduação. Dessa forma, podese constatar que as concepções são marcadas por um embate entre perspectivas sociais e individuais que pode ser explicada pela escolha de ênfases entre a psicologia social e clínica; por experiências pessoais e familiares para embasar seus argumentos e pela carência de discussões na graduação.