O reconhecimento das emoções como um fenômeno intrínseco ao ser humano desperta, há cerca de três décadas, o interesse na compreensão dos comportamentos das pessoas em contextos sociais relacionados à afetividade no trabalho. Neste cenário, surge o conceito de trabalho emocional para se referir ao processo no qual as pessoas tomam como referência um padrão de sentimento ideal construído na interação social e o manejam para atender às regras de expressão emocional da organização ou ocupação. No entanto, na literatura nacional, os estudos sobre esse fenômeno são incipientes, especialmente na ocupação de trabalhadoras domésticas diaristas, o que gerou o seguinte questionamento: Como as condições de trabalho dessas trabalhadoras repercutem em seu estado afetivo-emocional? Foram adotadas estratégias metodológicas de natureza qualitativa e, sob o olhar da psicossociologia do trabalho – que possibilita analisar o contexto social da participante – o presente estudo investigou o quanto as condições de trabalho da diarista podem influenciar as demandas de trabalho emocional e as estratégias de autorregulação emocional vivenciadas por parte desta categoria laboral em seu contexto de trabalho. Trata-se de pesquisa social qualitativa descritiva, cujo o aporte teórico esteve pautado no modelo de autorregulação emocional desenvolvido por Grandey, tendo como base o conceito de trabalho emocional elaborado por Hochschild e o desenvolvimento teórico sobre regulação emocional de Gross. Participaram da pesquisa sete contratantes de serviços domésticos em diárias e sete trabalhadoras domésticas diaristas, todos do sexo feminino, residentes em um município do estado do Piauí. Para apreensão dos dados realizou-se questionários sociodemográficos e entrevistas semiestruturadas que foram categorizados por meio da Técnica da Análise de Conteúdo. Os resultados obtidos sugerem que o contexto de trabalho das trabalhadoras domésticas diaristas é permeado por relações hierárquicas, vínculos laborais frágeis e condições de trabalho precárias que ensejam da parte delas um esforço constante para concretização do trabalho emocional. Foram identificadas diversas demandas oriundas do contexto de trabalho vivenciado pelas trabalhadoras que, ora despertavam emoções positivas causando sentimento de satisfação e reconhecimento pelo trabalho realizado, ora despertavam emoções negativas, fazendo-as se sentirem humilhadas e desvalorizadas demandando das trabalhadoras autocontrole emocional. Conclui-se que algumas trabalhadoras se mostraram ativas no uso de estratégias de autorregulação emocional adotando posturas que as preservassem de experimentar a dissonância emocional – como selecionar a situação que não quer mais vivenciar por lhe causar sofrimento, mas a maioria delas optava pela supressão emocional, que pode estar relacionada ao contexto de vulnerabilidade social e trabalhista em que estão inseridas.