Em sua compreensão sobre a cegueira, Vygotsky compreende que não há diferenças básicas no impulso para o desenvolvimento de uma pessoa cega, em comparação com uma pessoa vidente, visto que ambas têm o mesmo aparato para desenvolverem a aprendizagem, que é a linguagem. Dessa forma, a Psicologia Histórico-Cultural apresenta que o desenvolvimento da pessoa com cegueira não possui diferenças em relação às possibilidades de aprendizagem, quando comparadas às possibilidades de aprendizagem de uma pessoa vidente; existem, na verdade, formas diferentes de acesso ao mesmo conhecimento. Após séculos de exclusão no processo de ensino, hoje no Brasil as pessoas cegas têm garantidas legalmente o direito à escolarização. Entretanto, embora tenha sido conquistado o acesso à escola, a permanência e a qualidade ainda são um grande desafio para esta população. Vygotsky em sua compreensão a respeito da capacidade de aprendizagem das pessoas com deficiência, considera que a deficiência é uma dificuldade imposta muito mais pela sociedade do que pelo problema fisiológico. Dessa forma, entende-se que o cego é deficiente em razão do estranhamento que causa na sociedade em que habita, que está majoritariamente constituída e adaptada para pessoas videntes. Ao tratar-se do aluno deficiente, infelizmente o estigma de incapacidade e ineficácia socialmente cristalizado, ainda aparenta estar penetrado nas práticas educacionais. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo compreender as trajetórias de escolarização de pessoas cegas piauienses a partir de suas memórias. Possui como objetivos específicos: Identificar nas memórias das trajetórias de escolarização de pessoas cegas piauienses, situações consideradas negativas e positivas vivenciadas no espaço escolar; Analisar a relação existente entre a busca por direitos sociais pelas pessoascegas e ampliação progressiva de inserção de pessoas cegas no sistema formal de ensino piauiense; Conhecer a partir das trajetórias escolares de pessoas cegas piauienses os diferentes elementos contribuintes e aspectos influenciadores para escolha de profissões. O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí, sob a CAAE: 31152720.2.0000.5214. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva, com a metodologia da História Oral, pelo viés das narrativas de trajetórias de vida. Para o estudo, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ser uma pessoa cega com idade superior ou igual a 18 anos; ambos os sexos; ter cursado por completo a escolarização básica até o ensino médio no estado do Piauí. Dessaforma, a amostra foi composta por 10 participantes. As entrevistas foram realizadas de maneira virtual por meio do aplicativo Google Meet, e a entrevista foi conduzida por meio dos seguintes eixos norteaores: Escolarização, processos de escolarização e aspectos positivose negativos;Vida escolar e conquista de direitos escolares; Família, atividades extracurriculares e aspectos influenciadores para escolha profissional. As análises serão feitas a partir da Análise de Conteúdo Temática com base nos pressupostos de Bardin. Os dados serão analisados teoricamente a partir da Psicologia Históricocultural e Pedagogia Histórico-crítica. Com a pesquisa, espera-se contribuir para o estudo científico de um fenômeno pouco explorado - a apreensão de memórias coletivas acerca da escolarização de pessoas cegas -, o que pode implicar na melhoria de práticas docentes e nos processos educativos, assim como também na formação de outros profissionais da área sobre o assunto estudado.